Devo ter sido o
principal redator de Luiz Maria Alves – com as exceções naturais – nas suas
lutas em defesa da paisagem. No caso do Mirante da Caern, certamente a
primeira, ali no alto da balaustrada da Getúlio Vargas, era um foca. Fui só
repórter. Em muitas outras, não. Fui repórter, redator e editorialista. Com ele
fiz um curso geral de redação e dele ouvi muitas vezes que a boa opinião se
constrói de forma substantivada e não com adjetivação pesada. Para que assim o
adjetivo se justifique na cabeça do leitor.
Lembrei o detalhe em
dois instantes recentes: a entrevista de um tecnocrata que assisti cantando as
glórias do projeto da Via Costeira, e um artigo de Carlos Heitor Cony, na Folha
de S. Paulo. O tecnocrata tripudiou, embora com elegância, louvando o Governo
Tarcísio Maia ao construir a Costeira, e Cony deu seu grito contra esculturas
do museu a céu aberto, no Rio, que ‘quebram a paisagem estonteante de uma
cidade que, em termos panorâmicos, é considerada a mais bela mundo’, ele que
defende o Rio, sempre.
É preciso não ter
vivido a luta – o tecnocrata viveu, sim – ou ser omisso – e ele foi, sim – para
negar a corajosa posição de Luiz Maria Alves. O projeto da Costeira teria sido
inteiramente outro se realizado como inicialmente concebido. A começar do
traçado da avenida que seria do lado do mar, reservando a faixa contígua às
dunas para a edificação de hotéis. Da função de barreira natural de proteção
dos morros, até hoje, passaria a uma porteira escancarada para a destruição da
nossa bela reserva de Mata Atlântica.
Não vou recontar a
história que já contei, numa entrevista de página inteira, a Sílvio Andrade, do
Novo Jornal. É só pra dizer que o Diário de Natal, aquele outro e bem outro,
trouxe a Natal Vasconcelos Sobrinho, o grande geógrafo pernambucano que havia
integrado a comissão sobre a desertificação no mundo, e Burle Max, o mestre na
flora tropical, inclusive estudioso da Mata Atlântica. Não foi fruto de
improvisação. Pelo contrário. A luta foi para desmontar a falácia inculta e
insensível dos tecnocratas.
A Costeira sempre foi
vítima de desejos vorazes. O que era para ser um parque com vários hotéis,
todos horizontais e erguidos nos seus platôs naturais integrados ao conjunto da
paisagem e deixando livre a bela visão de Ponta Negra – o único a cumprir foi o
Vila do Mar – acabou sendo cercada por verdadeiros edifícios-tapumes. Para não
falar no crime que foi o governo permitir que as áreas de servidão pública,
para acesso das pessoas às praias – fossem engolidas pelos que já haviam
recebido os terrenos de graça.
Agora foi Carlos
Heitor Cony que protestou com o título de ‘Poluição Visual’ a fixação de uma
escultura na enseada de Botafogo e de onde, defende, se tem a mais perfeita
visão do Pão de Açúcar. Para ele, ‘a escultura quebra dramaticamente a harmonia
do cenário que é uma das logo-marcas do Rio’. É por essas e outras que Luiz
Maria Alves foi um gênio além do seu tempo. Não tinha culpa de ser um leitor
bem informado nos jornais britânicos que aproveitava dos dirigentes ingleses
nas madrugadas insones como telegrafista da Western Telegraph. E onde um dia
acabaria assumindo o cargo de gerente geral.
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