Data: 19 outubro 2012 - Hora: 17:51 - Por: Vicente Serejo
Natal é hoje uma cidade órfã de líderes. Se não somos vítimas de
oligarquias, pagamos o preço de um processo oligarca que empobreceu a escola
política que nos anos sessenta formou uma geração inteira. De gestores públicos
a vereadores, governadores e senadores, despertando o espírito público que hoje
tanto nos falta. Dos filhos de seguidores de uma tradição passamos a herdeiros
de profissão e de empregos, mas sem preparo e buscando nutrir dos mandatos só
uma forma de consagração social.
Antigamente, os mais
jovens frequentavam a escola dos políticos. Eram oficiais de gabinete ou
aprendizes assessores, depois chegavam aos primeiros cargos ou depois de
credenciados pelo exercício da política, alcançavam as redações e as praças.
Hoje, não. Dos cueiros da família já saem para o treino geral de matreirice, e
de incautos passam a sabidos. De incúria é feito o nosso novo cenáculo, sem nem
ao menos um aprendizado consistente, até lúdico para treinar a alma humana nos
jogos da criação.
Não é só um fato
nacional alarmante, por si só, esse adiamento do comício da presidente Dilma
Rousseff para não sofrer esvaziamento de plateia com o público concentrado nos
capítulos finais da novela Avenida Brasil. Do macrocosmo, como gostam de dizer
os sociólogos e economistas, passemos ao microcosmo, e flagra também aí o dado
alarmante e demonstrador da nossa total falta de interesse: a abstenção dos
eleitores natalenses, somados aos nulos e brancos, venceu em Natal no primeiro
turno.
Só a abstenção –
ausência nas urnas – chega a 96.422 mil votos, a segunda posição na contagem
dos votos de candidatos, o que já revela todo o descrédito do natalense, se não
é o próprio desprezo diante de uma pobreza política que nas últimas décadas
destruiu a arte de liderar. Ainda que não fosse uma ciência, o exercício da
vida pública caiu no desvão do seu próprio vazio, e passamos à artimanha.
Nossos políticos usam as ruas e praças como cenários das imagens televisivas e
não como tribunas.
Foi o que nos legou o
jogo familiar nesses últimos vinte anos, jogado como uma forma de fazer
política. Duas famílias terceirizando a luta de Natal, alternando seus apoios a
uma mesma e única candidata pelo desinteresse em renovar de verdade seus
quadros. E na Câmara, a primeira escola legislativa formadora do espírito
público, quando um sobrinho fracassa nos descaminhos das pequenas ambições,
inventa-se outro. Ou, tanto pior, fazemos da política um descartável campo de
fenômenos.
Sejamos sinceros: quem
sente a inevitável necessidade de ouvi-los? Quem deseja participar da discussão
de suas ideias? Quem, por acaso, imagina vê-los construindo novos destinos e
conquistando um futuro coletivo? Ninguém. O que se tem é uma Natal
desinteressada a lançar seu olhar de desprezo por viver um terrível sentimento
de orfandade. Uma Natal sem líderes, hoje rica de gravatas e pobre de ideias.
Como se fosse possível revogar da política o belo exercício diário e
insubstituível da vocação
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