domingo, 18 de novembro de 2012

Serejo: A orfandade de Natal


Data: 19 outubro 2012 - Hora: 17:51 - Por: Vicente Serejo

 Natal é hoje uma cidade órfã de líderes. Se não somos vítimas de oligarquias, pagamos o preço de um processo oligarca que empobreceu a escola política que nos anos sessenta formou uma geração inteira. De gestores públicos a vereadores, governadores e senadores, despertando o espírito público que hoje tanto nos falta. Dos filhos de seguidores de uma tradição passamos a herdeiros de profissão e de empregos, mas sem preparo e buscando nutrir dos mandatos só uma forma de consagração social.

 Antigamente, os mais jovens frequentavam a escola dos políticos. Eram oficiais de gabinete ou aprendizes assessores, depois chegavam aos primeiros cargos ou depois de credenciados pelo exercício da política, alcançavam as redações e as praças. Hoje, não. Dos cueiros da família já saem para o treino geral de matreirice, e de incautos passam a sabidos. De incúria é feito o nosso novo cenáculo, sem nem ao menos um aprendizado consistente, até lúdico para treinar a alma humana nos jogos da criação.

 Não é só um fato nacional alarmante, por si só, esse adiamento do comício da presidente Dilma Rousseff para não sofrer esvaziamento de plateia com o público concentrado nos capítulos finais da novela Avenida Brasil. Do macrocosmo, como gostam de dizer os sociólogos e economistas, passemos ao microcosmo, e flagra também aí o dado alarmante e demonstrador da nossa total falta de interesse: a abstenção dos eleitores natalenses, somados aos nulos e brancos, venceu em Natal no primeiro turno.

 Só a abstenção – ausência nas urnas – chega a 96.422 mil votos, a segunda posição na contagem dos votos de candidatos, o que já revela todo o descrédito do natalense, se não é o próprio desprezo diante de uma pobreza política que nas últimas décadas destruiu a arte de liderar. Ainda que não fosse uma ciência, o exercício da vida pública caiu no desvão do seu próprio vazio, e passamos à artimanha. Nossos políticos usam as ruas e praças como cenários das imagens televisivas e não como tribunas.

 Foi o que nos legou o jogo familiar nesses últimos vinte anos, jogado como uma forma de fazer política. Duas famílias terceirizando a luta de Natal, alternando seus apoios a uma mesma e única candidata pelo desinteresse em renovar de verdade seus quadros. E na Câmara, a primeira escola legislativa formadora do espírito público, quando um sobrinho fracassa nos descaminhos das pequenas ambições, inventa-se outro. Ou, tanto pior, fazemos da política um descartável campo de fenômenos.

 Sejamos sinceros: quem sente a inevitável necessidade de ouvi-los? Quem deseja participar da discussão de suas ideias? Quem, por acaso, imagina vê-los construindo novos destinos e conquistando um futuro coletivo? Ninguém. O que se tem é uma Natal desinteressada a lançar seu olhar de desprezo por viver um terrível sentimento de orfandade. Uma Natal sem líderes, hoje rica de gravatas e pobre de ideias. Como se fosse possível revogar da política o belo exercício diário e insubstituível da vocação

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