Geraldo de Oliveira
Segundo o antropólogo Robert B. Edgerton: “Os seres
humanos em várias sociedades, sejam urbanas ou tradicionais, são capazes de
empatia, bondade, até amor, e por vezes podem alcançar notável domínio sobre os
desafios impostos pelo meio ambiente. Mas são capazes também de preservar
crenças, valores e instituições sociais que resultam em crueldade sem sentido,
sofrimento desnecessário e monumental estupidez em suas relações internas, com
outras sociedades e com o ambiente físico onde vivem. As pessoas nem sempre são
sábias, e as sociedades e as culturas que elas criam não são mecanismos de
adaptação ideais, perfeitamente projetados para prover necessidades humanas. É
um erro sustentar, como o fazem muitos especialistas, que se uma população se
apega a uma crença ou prática tradicional por muitos anos ela necessariamente
desempenha papel importante em sua vida. As crenças e práticas tradicionais
podem ser úteis, podem até servir como importantes mecanismos de adaptação, mas
também podem ser ineficientes, danosas e até letais.
A Antropologia em uma de suas divisões, a
antropologia urbana, busca entender os fenômenos que ocorrem como resultantes
do convívio do homo sapiens sapiens em ambientes que se caracterizam por uma
dicotomia em relação ao ambiente rural.
A urbanização crescente criou uma nova categoria em termos de ocupação social e cultural dos territórios: o ambiente rurbano. Uma junção de categorias relacionadas ao viver urbano e rural. É a tal da globalização chegando à roça. As famílias da zona rural vão à feira semanal: os pais vão vender sua produção agropecuária; os filhos vão à lan house; os homens vão tomar cachaça; e, as mulheres vão comprar um edredom ou uma capa para o sofá. E por aí vai.
A urbanização crescente criou uma nova categoria em termos de ocupação social e cultural dos territórios: o ambiente rurbano. Uma junção de categorias relacionadas ao viver urbano e rural. É a tal da globalização chegando à roça. As famílias da zona rural vão à feira semanal: os pais vão vender sua produção agropecuária; os filhos vão à lan house; os homens vão tomar cachaça; e, as mulheres vão comprar um edredom ou uma capa para o sofá. E por aí vai.
Na cidade os rumos também se alteram. Ler é crime. O
bom é ver televisão e comentar o big brother. A música é só uma: forró que diga
que a mulher é puta e o cabra é corno (ou o grande comedor). Uma versão para jovens
traz o hip hop questionador das periferias de São Paulo e o funk da foda do Rio
de Janeiro. Mas, contra esse tsunami de apatia em relação ao pensar há quem
resista: os intelectuais.
Intelectual, na acepção comum, é quem faz jus ao
adjetivo Homo sapiens sapiens. Ledo engano. Hoje é um bicho em flagrante e
crescente extinção. Os óculos, os livros, as conversas de conteúdo,... Tudo
indo às favas. E por osmose, as livrarias que não vivem de livros didáticos e
de auto-ajuda. Um segmento das livrarias, contudo, vem sobrevivendo nesse
mercado global e banal: as livrarias que estão irmanadas às praças de
alimentação de shoppings centers.
Essa junção literogastronômica em um lugar comum vem
subsidiada por atitudes comportamentais próprias. Atitudes estas que pretendem
configurar um novo personagem: o intelectual de shopping. Ele vai comer
porcarias em um fast food, e fingir que ler em uma library. Neste último,
também acontecem eventos de lançamentos de livros de auto-ajuda e correlatos.
Lança-se uma moda que implica em uma nova postura para ser notado, agora, como
um intelectual nessa nova configuração social.
Na condição de antropólogo, bisbilhoteiro desse novo
modus vivendi, e querendo contribuir para a felicidade geral dessa nova geração
de micróbios humanos, venho expor a solução antropológica para se tornar um
legítimo Intelectual de Shopping Center. Assim, basta seguir as regras abaixo:
01) Freqüente assiduamente os shoppings,
particularmente nos horários de almoço. Isso fará de você uma pessoa notada. Se
tiver e puder, leve o notebook e fique papeando na net. Claro, sempre fazendo
uma cara séria (mesmo que esteja em sites pornográficos) e com aqueles óculos
de leitura que são vendidos na farmácia do shopping e que custam menos de 20
reais. Não precisa ter grau. Mas tem que estar de óculos.
02) Faça amizade com os vendedores das livrarias
locais. É importante que quando você chegue lá seja recebido com um grande
sorriso e um aperto de mão. Isto pode valer muitos pontos, caso esteja por lá
alguém sério querendo comprar um lançamento literário.
03) Trabalhe muito e compre uma camisa pólo da marca
Lacoste. Isto é fundamental: o jacaré, símbolo máximo do glamour, trará olhares
pra você. Nem que seja por inveja, alguém irá notar a sua presença. Depois,
caso você não tenha um perfil étnico de freqüentador de shopping Center isso
lhe evitará problemas com vendedoras de classe média decadente e,
evidentemente, com os seguranças.
04) Compre, preferencialmente em um sebo, um livro
de Saramago – isto para dar a idéia de que este é manuseado. Não se preocupe:
você não precisa ler. Nem a orelha. Basta tê-lo embaixo do braço e fazer as
pessoas notarem. Mais fácil: veja o filme recente “Ensaio sobre a cegueira”
(também não precisa ver todo) e com ar blasé diga: _é, eu vi o filme, mas nada
que se compare ao que está escrito. Caso queira pegar pesado, consiga na net o
comentário de alguém, decore uma frase de efeito ou apenas diga: _é uma obra
que trata da complexidade do homem de forma atemporal e única.
05) Por último, nada de ter um look underground ou
de comunista dos anos 80. Portanto, mantenha os cabelos curtos, use perfume e
esteja sempre sorridente.
Felicidades antropológicas.
Felicidades antropológicas.
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