quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Lima: *Chapeuzinho Vermelho


*Chapeuzinho Vermelho
Por  Jairo Lima  in Infâmia

www.jairolima.org

 Numa bela tarde ensolarada de Natal (1) uma bela mocinha de sociedade, usando um belo chapeuzinho vermelho, adentrou (2) no shopping para comprar preservativos e um livro de Paulo Coelho.

 Após sair da farmácia, dirigia-se à livraria quando avistou uma velha Intelectual-de-Shopping sentada no chão frio do mall arrodeada de livros.

- Vovó, admirou-se a mocinha, vc deve ser uma intelectual.

- Não se precipite, queridinha, todo ser humano usa o intelecto portanto tenho dúvidas se existem mesmo intelectuais, ensinou.

 A mocinha, ainda mais admirada com tão profunda inteligência, perguntou:

- E como se chama então uma pessoa que vive cercada de livros?

- Isto é relativo. Livros são apenas papeis pintados. Não estou bem certa de que existam livros.

- E shopping, existe?

- Shopping é um comércio e comércio tem também no Alecrim (3) e lá não se chama shopping. Tudo é relativo.

 Aí a mocinha queimou feio (4).

- Ora, porra, e se eu puxasse uma peixeira e lhe cravasse no peito, isto também seria relativo?

- Claro, meu amor, se um jornalista perguntasse ao Tarso Genro, após o meu assassinato, se estava aumentando a violência no shopping ele diria que não, que está tudo dominado, sendo o meu passamento um pequeno e normal efeito residual das tensões sociais. E acrescentaria: vamos abrir um inquérito para apurar se o suposto homicídio ocorreu mesmo no suposto shopping e foi praticado por uma suposta mocinha com um suposto chapéu vermelho que ia comprar um suposto livro do suposto escritor Paulo Coelho. Tudo, tudo é relativo.

 Deixa que aí a mocinha se emputeceu e puxando uma peixeira afiada (5) cravou-a até o cabo no coração da velha Intelectual-de-Shopping que estrebuchou, enrijeceu, suspirou e morreu. Imediatamente chegou o pessoal da limpeza que recolheu o corpo, lavou o sangue, aspergiu bom-ar e deixou tudo limpo como antes. Aí a Justiça concedeu a nossa heroina o status de refugiada política, considerando o móvel ideológico do crime. E ela fundou uma ONG que só no ano passado recebeu 3 bilhões de reais do governo.

Moral da história: Uma coisa é certa: crime é relativo mesmo.

Notas:

 1) A cidade, não a festa.

 2) Expressão obrigatória na crônica esportiva e policial, como é o caso deste trágico relato.

 3) Bairro de Natal.

 4) Antigo provérbio potiguar.

 5) Não é verossímil que uma mocinha de sociedade saísse de casa armada com uma peixeira, mas deixa pra lá.

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