Chegaste a mim não como lume
Mas como Pergunta exposta na toalha
sobre a mesa
E com olhos irônicos fitaste o Vazio dos
meus olhos
E nos meus olhos te atiraste como um
predador na rota de sua presa
Na boca um sorriso zombava de futuros e
certezas
E eu te vi.
Te vi como se vê mares e dunas
Como coisas que são sem oráculos nem
seitas
Que não se anunciam, nem aguardam, nem
ficam, nem se vão:
Ali estavas de pé em frente aos panos da
noite
E parecia que contigo aquela noite
estava feita Te vi coxas, riso, ombros e mãos
Perdidos entre afago e maldição
Enquanto o sol ainda se esconde tua mão
me marca a pele e impõe fronteiras de posse
Num corpo que já não é mais o meu e se
entrelaça no teu e se contorce
Os lábios se encontram e vão em busca dos
vapores quentes da alma
Se colam, se penetram, se invadem;
Não são asas de pássaros, são patas de
cavalo
Destruindo colheitas
Aquela noite só prometia suores
Conquistados a cada beijo
Os latifúndios do desejo
Eram cada vez maiores
(-----------)
Vim de longe
Em hora incerta
Vim de lunas
Vim de céus perfurados de estrelas
Vim de amores submersos em dores e
desfeitas
Para que celebrasses a consagração
bizarra
Que faz a carne virar pão
O sangue virar vinho
E a cama virar mesa
Onde a fome dispõe as suas facas
Para cortar as carnes e sugar a seiva
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