segunda-feira, 5 de novembro de 2012

De Jairo Lima: No bar

No bar

 

Chegaste a mim não como lume

Mas como Pergunta exposta na toalha sobre a mesa

E com olhos irônicos fitaste o Vazio dos meus olhos

E nos meus olhos te atiraste como um predador na rota de sua presa

Na boca um sorriso zombava de futuros e certezas

E eu te vi.

Te vi como se vê mares e dunas

Como coisas que são sem oráculos nem seitas

Que não se anunciam, nem aguardam, nem ficam, nem se vão:

Ali estavas de pé em frente aos panos da noite

E parecia que contigo aquela noite estava feita Te vi coxas, riso, ombros e mãos

Perdidos entre afago e maldição

Enquanto o sol ainda se esconde tua mão me marca a pele e impõe fronteiras de posse

Num corpo que já não é mais o meu e se entrelaça no teu e se contorce

Os lábios se encontram e vão em busca dos vapores quentes da alma

Se colam, se penetram, se invadem;

Não são asas de pássaros, são patas de cavalo

Destruindo colheitas

Aquela noite só prometia suores

Conquistados a cada beijo

Os latifúndios do desejo

Eram cada vez maiores

 

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Vim de longe

Em hora incerta

Vim de lunas

Vim de céus perfurados de estrelas

Vim de amores submersos em dores e desfeitas

Para que celebrasses a consagração bizarra

Que faz a carne virar pão

O sangue virar vinho

E a cama virar mesa

Onde a fome dispõe as suas facas

Para cortar as carnes e sugar a seiva

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