terça-feira, 30 de outubro de 2012
Kantor: O papel da cor da pele no governo Obama
JODI KANTOR
DO "NEW YORK TIMES"
Barack Obama
raramente tece reflexões sobre a experiência de ser o primeiro presidente negro
dos Estados Unidos, convertendo em algo quase ordinário o que antes dele era
extraordinário.
Mas sua
tranquilidade aparente oculta a ansiedade e a emoção com que, segundo
assessores, ele atua em sua posição histórica: orgulho pelo que realizou,
determinação para fazer um bom trabalho e frustração intensa. Obama busca um
equilíbrio entre dois impulsos: a visão de que a política universal não é
baseada em critérios raciais e a promoção da vida negra e seus desafios.
Atento para não
criar pontos de atrito raciais, o presidente é reservado e cuidadoso ao falar
sobre o assunto. Seus assessores orquestram com muita diplomacia as aparições
de personalidades negras e manifestações de cultura negra na Casa Branca. As
pessoas próximas a Obama dizem que ele se irrita por ser incompreendido -não
apenas por adversários que insinuam que ele favorece os afro-americanos, mas
também por intelectuais e parlamentares negros que o criticam por ele não fazer
de sua Presidência um ataque frontal à disparidade racial.
"Tragicamente,
parece que o presidente se sente constrito por sua negritude", disse o
apresentador de rádio e televisão Tavis Smiley. "Tem sido doloroso, em
alguns momentos, assistir ao tratamento calculado, cauteloso e por vezes
indiferente dado pelo presidente à sua base eleitoral mais leal. Os
afro-americanos perderam terreno na era Obama."
De acordo com
assessores, críticas desse tipo deixam o presidente ressentido e sentindo-se
traído por aqueles que ele acha que deveriam ser seus aliados.
Observadores
atentos dizem que Obama está ficando mais confiante para falar de raça em
público, da mesma forma que o faz em conversas particulares.
Indagados sobre
quando puderam perceber essa mudança, vários assessores e amigos mencionaram o
final da festa de aniversário de Obama em 2011. Quando ficou tarde, muitos dos
convidados brancos foram embora, e a música ficou "mais e mais
negra", como o humorista Chris Rock contou a uma plateia mais tarde.
Quando viu artistas e atletas afro-americanos dançando o Dougie (movimento de
dança hip-hop) para celebrar um presidente negro numa Casa Branca construída
por escravos, disse Rock, "senti que eu tinha morrido e ido para o céu
negro".
Hoje Obama preside
uma Casa Branca que projeta a unidade transracial. Muitas de suas decisões mais
críticas de política doméstica beneficiaram afro-americanos: pacotes de
estímulo que mantiveram os empregos de funcionários públicos, doações para o
setor educacional para ajudar escolas com desempenho fraco e uma reforma da
saúde que vai garantir cobertura médica a milhões de americanos. Mas Obama
apresenta essas medidas como políticas que visam ajudar os americanos de todas
as origens.
Falando
reservadamente, assessores da Casa Branca frequentemente dissecam a dinâmica
racial da Presidência, perguntando se o deputado republicano Joe Wilson, da
Carolina do Sul, teria gritado "o senhor mente!" para um presidente
branco durante um discurso perante o Congresso, ou qual é o significado real de
cartazes do Tea Party pedindo "Vamos Tomar Nosso País de Volta".
Obama é
circunspecto quanto à questão de parte da oposição a ele ser movida pela
questão racial. Assessores dizem que o presidente tem plena consciência de que
alguns eleitores dizem que nunca se sentirão à vontade com ele, além das
ocasionais manifestações de racismo na campanha, como a camiseta, vista num
comício recente de Mitt Romney, estampada com a frase "Vamos Devolver o
Branco à Casa Branca". Mas eles dizem, também, que Obama é disciplinado,
obrigando-se a não reagir, porque fazê-lo poderia facilmente provocar reações
contrárias indesejadas.
Mesmo quando Newt
Gingrich o descreveu como "presidente dos tíquetes-alimentação", nas
primárias republicanas, o máximo que Obama fez foi lançar um olhar cheio de
significado para seus confidentes, como se dissese "não vou dizer nada,
mas já estou dizendo", comentou um assessor.
Aos negros que o
acusam de não ser agressivo na questão racial, Obama responde: "Não sou o
presidente da América Negra. Sou o presidente dos Estados Unidos da
América."
Na primeira reunião
de seus maiores doadores de campanha, no ano passado, alguns doadores negros
ficaram consternados quando funcionários distribuíram fichas com tópicos sobre
as conquistas obtidas pela administração Obama em favor de grupos diversos:
mulheres, judeus, gays e lésbicas. Mas não havia ficha para os afro-americanos.
Pouco antes de sua
posse, em 2009, Barack Obama levou sua família para conhecer o Memorial
Lincoln. "Primeiro presidente afro-americano... é bom que você seja
bom", disse Malia Obama, então com 10 anos, a seu pai, que relatou o caso
mais tarde.
Apesar de toda a
cautela de Obama, ele está numa missão, dizem seus assessores: mudar os estereótipos
relativos aos afro-americanos, incentivando, por exemplo, realizações de negros
na ciência e na engenharia.
O professor de
direito em Harvard Charles J. Ogletree disse que Obama sabe que o próximo
candidato presidencial negro poderá ser avaliado segundo o desempenho dele,
Obama.
Um assessor da Casa
Branca falou que o desejo de Obama de ser reeleito é em parte pelo fato dele
ser o primeiro presidente negro: "é tão implícito que é como a
respiração".
Souza Leão: A praça é do lavador
No Parnamirim, fim
de tarde, compro uma revista e vou comer empada com cafezinho expresso no Bar
do Neno
Joca Souza Leão
Meu amigo Plínio
Duque escreveu à redação daqui do JC se queixando da lavagem de carros na rua.
No Rosarinho, na pracinha da General Abreu e Lima, e na Praça do Parnamirim.
Plínio tinha toda razão. Tá uma zona!
Sou, confesso,
freguês das duas. No Rosarinho, deixo o carro lá e vou cortar cabelo com Tânio
na esquina. No Parnamirim, fim de tarde, compro uma revista e vou comer empada
com cafezinho expresso no Bar do Neno. Mão na roda! Quando volto, o bicho tá no
grau. Shampoo, polimento com Carnu (que meu irmão Caio não gosta, pois Catita,
um especialista, disse que é abrasivo), bomba de flit com diesel nas rodas e
não sei o que nos pneus (ficam pretinhos que só!), tapetes e aspirador,
inclusive no porta-malas. Tudo, 15 pratas. Em qualquer lava a jato por aí é 35.
E no da Rosa e Silva, em frente ao Pão de Açúcar, 70.
Se o céu é do
condor e a praça é do lavador, qual o problema, então? A zona! Carros
estacionados por todo canto (em locais proibidos, inclusive), baldes e
materiais espalhados, aguaceiro... praças degradadas. E se a coisa continuar
nessa pisada, daqui a pouco a zona vai estar por todo canto, em toda a cidade.
O que sempre se
coloca nessas situações é “o leite dos meninos” versus a deterioração do espaço
urbano. E o argumento: “Melhor trabalhar do que roubar”. Mas, por aí,
justificar-se-ia tudo, da cafetinagem ao narcotráfico. E você, leitor, é
testemunha: sempre lutei pela preservação do espaço urbano.
O fato real e
concreto, no entanto, é que a prefeitura pode até proibir, mas pode fiscalizar?
Duvido! Os camelôs que o digam (acabaram de reocupar a 7 de Setembro e entorno
dos mercados de São José e Casa Amarela). Viável, enquanto é tempo – e a praga
não se alastra –, talvez seja regular, estabelecer normas e locais. A pracinha
do Parnamirim, mesmo, tá mais pra girador do que pra praça. Já a de Casa Forte,
nem pensar em lavadores por lá!
Atualmente, a zona
funciona assim. Cada praça tem um dono. E o dono é dono do macaco que puxa
eletricidade do poste e de todo o material: aspirador, cera, baldes, tudo. O
lavador fica com 60%, e ele, o dono, com 40. “O dono daqui tem mais duas”,
disse um lavador.
Seguinte. Antes de
tudo, fim da informalidade. A prefeitura cadastra e registra os caras como
autônomos. Pagando ISS, rateando despesas e tudo mais. Bata, quepe e crachá.
Locais demarcados (pintados no asfalto), torneiras (com hidrômetro da Compesa),
tomadas elétricas (com medidor da Celpe) e por aí vai. Nada de graça.
Claro que se a
coisa for disciplinada, o dono dança. Mas os lavadores topariam na hora. E como
beneficiários, seriam os guardiões das regras. Lavar e polir eles sabem. Só têm
que aprender o resto. Cidadania, inclusive.
“A praça é do povo!
/ como o céu é do condor. (...) / Desgraçada populaça / Só tem a rua de
seu...”, nos ensinou Castro Alves, na esperança de que aprendêssemos.
P.S. – Em relação à última crônica, Rosebud, Homero Fonseca, David Hulak, Ronald Guimarães, Everardo Maciel, Vera Cristina Bandeira, Pedro Crisóstomo Jr., Francis Souto, Sylvia C. Cunha e Rosana Bastos Piquet (além de três leitores que enviaram apenas seus endereços eletrônicos) escreveram se referindo a rosebud como o nome ou a marca do trenó de Kane quando menino ou, simplesmente, traduzindo a palavra, botão de rosa. No filme, no entanto, o repórter tenta – e não consegue – desvendar o porquê da citação (não o significado da palavra). E apenas nós, espectadores, vemos o trenó – e lemos o nome/marca – que é queimado na lareira. A ser verdadeira a versão de Mankiewicz – que eu acho que é –, o sarcástico Orson Welles tirou um sarro do apelido que Hearst deu ao clitóris da amante. Daí seu ódio, ainda maior, ao filme e a Welles.
Joca Souza Leão é cronista
Serejo: Triste e feliz
Por Vicente Serejo
Gosto muito, Senhor Redator, de lembrar uma frase de Brito Broca no
ensaio sobre Machado de Assis e a política, quando confessa que a sua ‘primeira
amizade literária foi José de Alencar’. É o meu caso, e com muito gosto. Tenho
nos olhos, e carrego como um legado da infância, os dorsos enfileirados dos
seus livros na pequena estante do meu pai. Aqueles volumes com capas impressas
em marrom e sua pequena humanidade de nomes próprios: Lucíola, Diva; ou os seus
índios – Guarani, Ubirajara, Iracema.
Talvez até fosse
mais pedante dizer que muito cedo, nem saído da meninice, já lia Machado de
Assis. Ora, pra quê? O bruxo do Cosme Velho apareceu muito tempo depois, na
biblioteca do Atheneu. Pra falar a verdade, e se não espanta o leitor, até hoje
tenho em José de Alencar uma velha companhia. É tanto que um dia, numa feira de
livros, em Fortaleza, parei na porta de uma sala e fiquei ali, encantado,
ouvindo o resto da palestra de uma professora sobre Iracema, a virgem
inesquecível dos lábios de mel.
Durante anos e
anos, quando a memória era confiável e não lambia as feridas amargas do adulto,
sabia citar todos os títulos na mesma ordem da contracapa daquelas edições
Melhoramentos. Era como se cada capa fizesse parte de um mural: Cinco Minutos,
A Viuvinha, Diva, Encarnação, O Ermitão da Glória, A Alma de Lázaro. Iracema
vinha mais ou menos no meio da relação, logo depois Lucíola e bem depois de
Til, O Tronco de Ipê e Ubirajara. Para não falar n’A Guerra dos Mascates e Pata
da Gazela.
E fiquei assim,
Senhor Redator, com esse defeito de alma. Não sei abandoná-los, fazê-los órfãos
de um velho bem-querer. O tempo engoliu a pequena coleção do meu pai. E do
naufrágio que se abateu, trágico e inevitável, só encontrei na casa do meu avô,
de janelas já apagadas, na Rua José, em Macau, ali onde São Jorge enfrentava um
dragão todos os dias na sala de visita, os dois volumes do dicionário de
Cândido de Figueiredo e os dicionários de Jayme de Séguier e Aurélio Buarque,
até hoje comigo.
Nunca consegui
refazer, completa e perfeita, a coleção dos livros de José de Alencar na edição
popular da Melhoramentos. Mas vou levando o sonho, aceso como as lamparinas da
infância. Até agora tenho só quatro volumes que uma vez encontrei num sebo
velho e empoeirado, no Largo do Arouche, em São Paulo. Não são os mesmos, mas é
um fetiche vê-los iguais, as mesmas capas que conheço tanto e há tanto tempo,
alisando a alma envelhecida, agora que todas as suas ilusões já dobraram a
esquina.
Não há neles nenhuma utilidade. Pra quê? Vê-los faz parte das coisas do
coração. E, no entanto, viveria um tempo em São Paulo, sem demora e sem pressa,
só procurando todos aqueles volumes da coleção Melhoramentos. Como se das suas
capas tão amarelecidas pelos anos saltassem todas aquelas figuras refazendo um
tempo imenso de vida. Com seus personagens, seus risos e seus prantos, num
cortejo mágico pelas ruas da infância, desenhando tatuagens no peito e num
espetáculo triste e feliz
Serejo: A Natal dos sonhos
Por Vicente Serejo
Olhe Senhor Redator, a Natal da propaganda eleitoral, aquela criada
pelos marqueteiros, é a Natal da imaginação. Não aquela outra da minha primeira
juventude, entre a Ribeira palafita, de ruas e rios, a dos trens que partiam de
lá carregados de sonhos; e o Grande Ponto, praça d’armas das grandes lutas, de
dias e noites lutando pela liberdade. Não a Natal do Brisa Del Mare, desenhando
madrugadas nas águas ternas do Potengi. Nem a André de Albuquerque sob as luzes
do Parque São Luiz Diversões Imperador.
Talvez fosse bem
melhor, mais verdadeira e mais humana, do que essa Natal de hoje, fingindo-se
de moderna. Natal tão calma que parecia uma ilha cercada de silêncio e solidão.
De bares que dormiam cedo, a não aqueles naturalmente destinados à vigilância
das danações. A Ribeira com suas boates, uma delas com seu nome afrancesado –
Arpeje. Ou aquela outra – nem lembro o nome – com sua luz vermelha acendendo
nos homens todos os desejos, quando o sexo era clandestino e tinha um gosto de
perdição.
Não diria da Natal
de hoje, tão vulgar, tão vulgarmente turística, com direito a tapiocaria e
bares de nomes intraduzíveis, enólogos e chefs de cozinha. A vida era simples.
De hábitos simples. De sonhos simples. Vivíamos vaidosos de quase nada. De
lugares tão humanos que pareciam com a simplicidade de nossas próprias casas:
Peixada da Comadre, Carne de Sol do Lyra ou do Marinho que ninguém sabia fazer.
Do filé de peixe ao molho de camarão lá no restaurante da Rampa, do velho Caldo
de Cana Orós.
Três lugares eram
modernos: o Dia e Noite, ali de lado onde é hoje o Edifício Sisal, com seu chão
quadriculado, e onde Gasolina, o garçom, cortava o silêncio da noite do Grande
Ponto – ‘Um bife e dois ovos mais ou menos!’. Modernidade que combinava com o
Cinema Nordeste e a sorveteria Oásis. Um dia perderam para o arrojo da
Lanchonete Kixou. Escrito assim mesmo, pilares revestidos de cordas, e onde a
minissaia instigava o olhar desejoso dos rapazes com olhos que pareciam subir
nas pernas das meninas.
Mas, convenhamos,
nada se compara, nem a Natal futurista nascida da imaginação de Manoel Dantas
espantando a província há um século, à Natal dos candidatos nos seus delírios
arquiteturais. Com seus ônibus de escadinhas robóticas, veículos leves sobre
trilhos, as avenidas largas, limpas, sem buracos e de jardins suspensos. Tenho
até medo que essa modernidade destrua o que sobrou, o resto dos traços da Natal
de ontem, seus últimos becos tão nossos, e matem o lirismo das suas janelas
bocejando saudades.
De uma coisa, Senhor Redator, por absoluta falta de bom gosto, não se
pode duvidar: é da nossa capacidade de destruir os traços do pitoresco. Da
vocação inenarrável para o modernoso, mistura terrível do moderno com o
horroroso. Se antes amanuelaram o mundo – na metáfora genial e perfeita do
verso de José Bezerra Gomes – hoje fazemos pior: acafonamos. E aqueles postes
com imitações de candelabros da Avenida Duque de Caxias? E o tal do Largo Dom
Bosco? E os arcos cretinos do Mercado da Redinha?
sábado, 27 de outubro de 2012
Lima: O livro digital tá botando pra quebrar na galerinha reaça.
By Infâmia (www.jairolima.org)
À espera do
desembarque da Amazon em território nacional, o mercado de livros digitais no
Brasil vem tomando fôlego para avançar em um segmento ainda incipiente,
apostando em maior oferta de títulos, aumento de vendas a taxas consideráveis e
parcerias que devem mudar o cenário dos chamados e-books no País.
Com grandes
representantes globais do segmento se preparando para abocanhar uma fatia do
promissor mercado brasileiro, hoje são as empresas nacionais que dominam o
setor de livros digitais, que caminha a passos lentos e sofre pela ausência de
dados sobre vendas, participação de mercado e relevância dentro do mercado de
livros como um todo.
Líder no
setor de livrarias e maior vendedora de livros via internet no País, a Saraiva
ingressou em 2010 nos livros digitais, que a empresa acredita ser seu maior
negócio.
“Vendemos
R$ 500 mil em livros digitais nos últimos 30 dias”, disse o
presidente-executivo da Saraiva, Marcílio Pousada. “E vamos aumentar esse
patamar mensal.”
Com 12 mil
títulos nacionais e 240 mil em inglês, a empresa espera encerrar este ano com
mais de 15 mil nacionais e criou um aplicativo de leitura que, segundo o
executivo, já supera 800 mil downloads.
“Temos um
caminho a percorrer. O primeiro passo é ter acervo, acompanhando o lançamento
de livros físicos, além de ter instrumentos poderosos de leitura e software
adequado”, disse.
Amazon no foco
Com exceção
da rede francesa Fnac, que está presente no Brasil mas com participação muito
pequena em livros digitais, o mercado tem voltado as atenções à Amazon, que se
prepara para instalar operações de venda de e-books no País.
A
estimativa inicial era de que o grupo norte-americano chegasse ao Brasil no
atual trimestre, mas representantes do setor de comércio eletrônico já consideram
que a estreia ocorra apenas no início de 2013.
A entrada
da Amazon no País deve se dar inicialmente apenas com seu tablet, o Kindle, e
um catálogo de e-books em português, disseram representantes de editoras locais
e uma fonte da indústria a par dos planos, em junho.
Com uma
abordagem totalmente digital, em um primeiro momento a Amazon minimizaria os
riscos que uma estreia de maiores proporções implicariam em um país com
problemas notórios de infraestrutura.
Mas a
expectativa em torno de tal estreia ganhou tons de especulação, com rumores de
que a Amazon estaria buscando associar-se a um grupo local para entrar no
Brasil com mais força.
A líder em
comércio eletrônico B2W e a própria Saraiva foram os dois principais alvos de
especulações.
“É natural que
qualquer empresa internacional procure o líder do mercado onde vai entrar, e
sempre estamos abertos a ouvir”, disse Pousada, da Saraiva, negando a
existência de negociações no momento. “É mais um que vem tentar vender livros
digitais e participar desse mercado.”
No mesmo
sentido, Herz, da Cultura, vê a chegada da Amazon como favorável ao setor.
“Prefiro a Amazon no Brasil, jogando nas mesmas condições. Hoje os brasileiros
já compram lá, mas ela não lida com os problemas que lidamos aqui.”
A parceria
com a Kobo, segundo ele, foi impulsionada pela necessidade de ganhar forças
para competir com a nova rival. “Sozinhos, não concorreríamos com a Amazon”,
assinalou.
Varejo físico
Se fossem
reunidos em uma única loja física, os livros digitais vendidos pela Saraiva
ocupariam hoje a 11ª posição entre as 102 lojas da rede em termos de volume. Em
janeiro, estavam na 79ª colocação e, no mês passado, na 49ª.
Esse avanço
crescente favorece os e-books e, ao mesmo tempo, cria incertezas quanto à força
do varejo físico.
“A loja
física está em xeque, perdeu importância no varejo global. Existe muito ponto
de venda no mundo para pouco consumidor”, afirmou Herz, da Cultura, que vê
espaço para crescer em lojas físicas, porém com mais critério.
“A livraria
se tornou uma experiência de entretenimento, muito mais que pelo produto”,
disse. “O futuro das livrarias é oferecer atrativos.”
Serejo: Marketing literário – final
Por Vicente Serejo
Não é com a moeda
pobre do arremedo, Senhor Redator, que se compra a glória. E basta lançar os
olhos sobre as prateleiras de qualquer biblioteca razoável de autores nascidos
nesta aldeia, ou aqui vividos, para se constatar o quanto fomos melhores no
passado. Num tempo de conquistas difíceis e consagrações intelectuais quase
impossíveis, quando o silêncio e a solidão cercavam estas dunas. Só a força da
inteligência venceu esse rio, esse mar e esses morros em mágicas viagens e
circunavegações.
Ouço o bruxo na sua
voz rascante e nisto ele tem razão. Auta de Souza, Henrique Castriciano e
Segundo Wanderley estão em algumas das mais importantes antologias poéticas de
seu tempo, só para fixar aquelas primeiras décadas do século passado. Nos
primeiros anos da década de vinte nosso Jorge Fernandes teve abrigo nas
revistas do Modernismo, e nem bem terminava a década de trinta, Câmara Cascudo
levava ao Brasil, pela editora Globo, o aboio dos vaqueiros e a cantoria dos
seus cantadores.
Fomos presença
erudita nas grandes coleções. Na Brasiliana, Cascudo publicou o Conde D’Eu e
Marquês de Olinda; traduziu as viagens ao Brasil do inglês Henri Koster e a
História da Alimentação no Brasil, em dois volumes, um clássico insuperável até
hoje. Rodolfo Garcia brilhou nas anotações à História do Brasil, de Francisco
Adolfo de Varnhagen, o Visconde de Porto Seguro, e na Coleção Documentos
Brasileiros, da J. Olympio, deixou a marca singular da História Administrativa
do Brasil.
João Chaves, há um
século, lançou o primeiro tratado em língua portuguesa sobre criminologia
depois de visitar bibliotecas de velhos mosteiros e universidades do mundo.
Garibaldi Dantas e Jaime Adour da Câmara visitaram longínquos países do Oriente
e publicaram os seus relatos na consagradora Companhia Editora Nacional. E o
grande Seabra Fagundes ensinou ao Brasil, antes de ser Ministro da Justiça de
Café Filho, o Controle dos Atos do Poder Executivo pelo Judiciário em edições
nacionais.
A convite de
Saldanha Coelho, Octacílio Alecrim ensinou ao Brasil, na Revista Branca, a ser
leitor de Proust, ele que foi o primeiro a estudar a influência francesa na
concepção constitucional brasileira. A Pongetti lançou Os Brutos, o romance de
José Bezerra Gomes inaugurador do ciclo do algodão no regionalismo. E o
Ministério da Educação publicou três edições do Dicionário do Folclore
Brasileiro e os dois maiores ensaios etnográficos de Câmara Cascudo – Jangada e
Rede de Dormir.
Por onde andamos Senhor Redator, esses anos todos, e tão perdidamente,
desde que a nossa grande geração de intelectuais desapareceu? Que nem sequer
vencemos a soleira da sala de jantar das nossas casas, empanturrados? Seria a
literatice fashion que entrou em moda? E nossos críticos literários, tão de
araque, no velho e prosaico tricô de suas apologias, rasgando seda uns para os
outros? O que nos deixarão, além dos seus egos, quando um dia essa noite tão
escura passar? Quando virá uma nova e clara madrugada?
Serejo: Marketing literário – II
Por Vicente serejo
Temos de tudo,
Senhor Redator, no mercado intelectual, informa o bruxo como velho cronista de
antigos torneios sociais. Nossa aquisição mais moderna é o traficante de
glória, poetastro jeitoso e falso escritor, sem a autenticidade do produtor que
pode ser jejuno de talento criador, mas não engana. O traficante, ao contrário,
está sempre disponível no seu maneirismo de inventar consagrações quase
perfeitas. Seria um grande artista e não um falsário se não fosse tão pequeno
esse mundo de meu Deus.
Quando ainda não
tínhamos inventado a glória internacional e ainda ciscávamos aqui mesmo, no
terreiro de nossas próprias veleidades provincianas, o poeta Benito Barros,
irônico e genial, do seu Império da Casqueira, lançou em Portugal ‘O Barco’,
numa bela edição. Aquele que seria seu último livro de poemas pela Coleção
World Art Friends, editora Corpos, abril de 2010, pouco antes de zarpar das
margens do seu mar antigo, como um navio em plenilúnio, para a viagem do nunca
mais voltar.
Tudo quanto veio
depois de cada invenção, entre gorjeios e loas, foi uma glória falsa, a não ser
nos gorgomilos dos vaidosos de toda espécie, cúmplices e financiadores das
invenções que enganam a aldeia que, nesse seu mister, além de velha, é tola. E
se somos assim, Senhor Redator, dado aos elogios fáceis e salamaleques que
escondem a jaça que mancha o falso brilhante, paciência. Os que não sabem são
com os que não enxergam, e por isso é justo que lhe seja dado o reinado
luxurioso da enganação.
E vai sussurrando o
bruxo, frio e implacável, e tudo sabe, lembrando que se foram os anos em que a
nossa literatura vencia a cancela fiscal da velha Corrente, antes matando a
sede na pequena bodega que tinha escrito na fachada ‘Água de Côco Boa Viagem’.
Bem ali, de frente onde hoje se ergue o colosso de concreto do Midway com nome que
lembra a grande batalha naval do Pacífico, na II Guerra Mundial, quando os
norte-americanos venceram a esquadra de Yamamoto, o feroz almirante japonês.
Ora, se temos de
tudo nesta estranha modernidade, e se esta aldeia, plantada às margens desses
mangues, é capaz de artimanhas de tão elevado requinte para fazer do falso sua
melhor criação, é sinal que assim desejamos ser. Um dia, quem sabe,
descobriremos que por isso estamos mais pobres. E tão pobres que talvez a
pobreza explique não a riqueza e a pujança do provincianismo cascudiano, mas um
outro. Aquele refém de si mesmo, de uma miséria intelectual que nasceu de toda
essa glória de mentira.
Perdemos, desastradamente, o bom provincianismo. Aquele que nos fez
universais e que destas dunas, um dia, nos permitiu lançar um longo olhar sobre
o mundo e nele abrir o espaço da nossa presença. Enganamos tanto uns aos
outros, como se ninguém fosse perceber, que ficou difícil separar o joio do
trigo. Agora tudo é joio e tudo é trigo. Depende da mistura mágica com a qual
se vai enganar a nós mesmos e aos outros. E, de tudo, restou o teatro do falso.
Num grande espetáculo de assombração.
Serejo: Marketing literário – I
Por
Vicente Serejo
Seria uma tolice imaginar que só a
literatura, por ser feita quase sempre nas usinas intelectuais, ficaria imune
ao marketing. Logo a literatura, refogada no azeite da vaidade humana e no
brilho dos egos polidos. Jamais dispensaria. Não pelo sofrimento de alguns dos
seus grandes nomes que levaram décadas a espera de um reconhecimento que,
embora justo, lhes era negado durante anos e anos. É que a fome de glória é
feroz, ainda que algumas vezes possa custar bom dinheiro ou tráfico de
influência.
E essa fera faz mitos e vítimas.
Outro dia o caderno ‘Prosa e Verso’ de O Globo, publicou uma página inteira
sobre o que chamou ‘Elogios de Aluguel’. A história de um habilidoso americano
com fortes inclinações para o falso, de nome Todd Rutherford, que depois de
muito trabalhar e pouco ganhar em empresa especializada em estimular jornais e
blogs a resenharem livros auto-publicados, teve um estalo: inventou, ele mesmo,
um birô de produzir resenhas para impressionar leitores fáceis.
Ora, não foi difícil, registra a
matéria assinada por David Streitfeld, do New York Tomes. Com mais algum tempo,
e como oferecia nos seus textos tudo quanto os clientes queriam que se
publicasse sobre seus livros, tipo ‘lírico e envolvente’ ou ‘assombroso e
tocante’, Todd Rutherford formou grande clientela própria. Abriu um site e, sem
dizer, tinha uma tabela: resenharia um livro por 99 dólares; vinte por 499; e
cobraria 999 dólares se o cliente desejasse ter um pacote de cinquenta boas
resenhas.
Dirá o intrépido leitor: não é
caro. Não é, mas também não é esta a questão. O problema é que um belo dia,
quando já faturava uma média mensal de 28 mil dólares, e um acervo de 4.531
textos vendidos, o equivalente no Brasil a mais de 50 mil reais, uma jovem
escritora de 24 anos não gostou da resenha que pagara e o denunciou em vários
sites. O Google reagiu e fechou a conta publicitária de Rutherford alegando que
não aceitava resenhas pagas e a Amazon derrubou alguns dos seus textos.
Bing Liu, um professor da
Universidade de Illinois, publicou um estudo em 2008 onde aponta que 60% das
resenhas da Amazon concedem cinco estrelas. Ele estima que ao menos um terço
dessas resenhas sejam falsas, mas é impossível provar quando são escritas por
publicitários ou vendedores, ou até pelos próprios autores usando pseudônimos.
No universo virtual tudo é possível. E o leitor, muito mais o leitor inexperiente
e sem informações consistentes, acredita nas indicações de leitura de sites.
Guardadas as proporções, Senhor
Redator, não estamos longe da prática desse hábito nesta Aldeia Velha. Se não
há resenhas pagas, temos por serviços de redação e revisão que alguns editores
profissionais chamam de preparação de originais. Em alguns casos, já estamos
contratando tudo: pesquisa, redação, revisão e, se possível, o brinde de um
artigo elogioso. Anote: mesmo que o autor seja gato de verdade, o livro pode
ser uma lebre enganadora. É o que dizem por ai. Amanhã tem mais.
Serejo: Ah, os enólogos!
Ah, os
enólogos!
Por Vicente Serejo
Não vou dizer,
Senhor Redator, quantas vezes estive em Paris. Até por que quando se é pobre e
cafona se leva a pobreza e a cafonice a vida toda. Posso garantir que foram
muitas para um menino da Rua da Frente e pouquíssimas para o jet, por exemplo.
Mas suficientes para estes olhos de repórter diante do mundo dos franceses. E
por isso vos digo: nunca vi tanto enólogo como em Natal. Tantos e tão felizes,
derramando risos nas colunas sociais. O PIB, se caiu, foi lá em São Paulo.
Aqui, pelo visto, vive em alta.
Até um tempo
desses, andei caindo na besteira de acreditar em alguns amigos que diziam como
se cochichassem: aqui tem lá jet! Ora, acreditei. Deixa que nem viam. Tem jet
por todo lado. E com uma sem-cerimônia de fazer inveja a um sultão e seus
haréns. Imagino que sua experiência há de espetar a argúcia de perguntar, a
essa altura: e as falências? Tenho impressão que também é tudo jogo. Não posso
acreditar em falência desse jeito, mesmo sabendo que, em sociedade, às vezes, o
riso esconde o pranto.
Eles, os enólogos,
doutores no mister dos vinhos, vivem na Europa. Usam as horas e os dias que
passam aqui, digamos, uns onze dos 12 meses do ano, para o exercício
insuportável da sobrevivência nos seus escritórios, consultórios e que tais.
Mas, são reluzentes nas horas de magia. Num passe de mágica daqui mesmo se
transportam para a Europa. Vejo-os vivendo a primavera ou o outono nos
restaurantes da cidade sorvendo o frescor dos brancos da Provence ou o rigor
terno e suave dos tintos do velho Rhone.
Sou sincero, Senhor
Redator, mesmo que insistam: não é a saudade que eles despertam em mim. Ninguém
pode sentir falta daquilo que nunca teve. Talvez um pouco de inveja – pra que
negar? – não do vinho, mas da frugal intimidade mágica com as tardes primaveris
e outonais da velha Paris onde estive algumas vezes só por mania de grandeza.
Neles, não. Tudo é simples e corriqueiro. De uma naturalidade encantadora pelo
requinte com que tocam a vida nestas dunas, na beira desse mar e no beiço desse
rio.
Lembro que numa
dessas viagens mais recentes, num claro excesso de ousadia, sentamos numa das
mesas de um dos lugares elegantes e agradáveis de Paris. Era um velho desejo e,
depois, seria uma única vez. Ficamos ali, encabulados e felizes, olhando a
alegria dos parisienses naquela primavera. As mulheres em roupas e tons bem
leves e sensuais, numa elegância como se tudo fosse casual. De decotes
ligeiramente abertos, braços nus, as pernas guardadas em botas curtas que só
escondiam os tornozelos.
Foi então que senti minha fraqueza e tive vergonha de mim mesmo. De
confessar a Rejane, minha companheira de viagens por esse mundo há quarenta
anos, que estava ali pensando nos nossos enólogos. Mas, sobretudo compreendendo
que a vida é assim mesmo. Por isso Paris é tão íntima para eles, quase uma
rotina, e para nós dois é a eterna novidade. Como no título de Betty Milan,
para nós também Paris não acaba nunca. Quem não é do jet, Senhor Redator,
sofre. Tem que ser comedido. E sempre devagar.
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Drummond: Hino Nacional
Só pra
(re)lembrar a diferença entre poeta e metrificador
In: INFÂMIA (www.jairolima.org)
Carlos
Drummond de Andrade
Hino
nacional
Precisamos
descobrir o Brasil!
Escondido
atrás as florestas,
com a
água dos rios no meio,
o Brasil
está dormindo, coitado.
Precisamos
colonizar o Brasil.
O que
faremos importando francesas
muito
louras, de pele macia,
alemãs
gordas, russas nostálgicas para
garçonetes
dos restaurantes noturnos.
E virão
sírias fidelíssimas.
Não
convém desprezar as japonesas...
Precisamos
educar o Brasil.
Compraremos
professores e livros,
assimilaremos
finas culturas,
abriremos
dancings e subvencionaremos as elites.
Cada
brasileiro terá sua casa
com fogão
e aquecedor elétricos, piscina,
salão
para conferências científicas.
E
cuidaremos do Estado Técnico.
Precisamos
louvar o Brasil.
Não é só
um país sem igual.
Nossas
revoluções são bem maiores
do que
quaisquer outras; nossos erros também.
E nossas
virtudes? A terra das sublimes paixões...
os
Amazonas inenarráveis... os incríveis João-Pessoas...
Precisamos
adorar o Brasil!
Se bem
que seja difícil compreender o que querem esses homens,
por que
motivo eles se ajuntaram e qual a razão
de seus
sofrimentos.
Precisamos,
precisamos esquecer o Brasil!
Tão
majestoso, tão sem limites, tão despropositado,
ele quer
repousar de nossos terríveis carinhos.
O Brasil
não nos quer! Está farto de nós!
Nosso
Brasil é no outro mundo. Este não é o Brasil.
Nenhum
Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?
Quanto a
mim, sonharei com Portugal
Às vezes,
quando
estou
triste e há silêncio
nos
corredores e nas veias,
vem-me um
desejo de voltar
a
Portugal. Nunca lá estive,
é certo,
como também
é certo
meu coração, em dias tais,
ser um
deserto.
Saramago: Não ao desemprego
Por José Saramago
A gravíssima crise económica e
financeira que está convulsionando o mundo traz-nos a angustiante sensação de
que chegámos ao final de uma época sem que se consiga vislumbrar o que e como
será o que virá de seguida.
Que fazemos nós, que assistimos,
impotentes, ao avanço esmagador dos grandes potentados económicos e
financeiros, loucos por conquistar mais e mais dinheiro, mais e mais poder, com
todos os meios legais ou ilegais ao seu alcance, limpos ou sujos, regulares ou
criminais?
Podemos deixar a saída da crise
nas mãos dos peritos? Não são eles precisamente, os banqueiros, os políticos de
máximo nível mundial, os directores das grandes multinacionais, os
especuladores, com a cumplicidade dos meios de comunicação social, os que, com
a soberba de quem se considera possuidor da última sabedoria, nos mandavam
calar quando, nos últimos trinta anos, timidamente protestávamos, dizendo que
não sabíamos nada, e por isso nos ridicularizavam? Era o tempo do império
absoluto do Mercado, essa entidade presunçosamente auto-reformável e
auto-regulável encarregada pelo imutável destino de preparar e defender para
sempre e jamais a nossa felicidade pessoal e colectiva, ainda que a realidade
se encarregasse de desmenti-lo a cada hora que passava.
E agora, quando cada dia aumenta
o número de desempregados? Vão acabar por fim os paraísos fiscais e as contas
numeradas? Será implacavelmente investigada a origem de gigantescos depósitos
bancários, de engenharias financeiras claramente delitivas, de inversões opacas
que, em muitos casos, mais não são que massivas lavagens de dinheiro negro, do
narcotráfico e outras actividades canalhas? E os expedientes de crise,
habilmente preparados para benefício dos conselhos de administração e contra os
trabalhadores?
Quem resolve o problema dos
desempregados, milhões de vítimas da chamada crise, que pela avareza, a maldade
ou a estupidez dos poderosos vão continuar desempregados, mal-vivendo
temporariamente de míseros subsídios do Estado, enquanto os grandes executivos
e administradores de empresas deliberadamente conduzidas à falência gozam de
quantias milionárias cobertas por contratos blindados?
O que se está a passar é, em
todos os aspectos, um crime contra a humanidade e desde esta perspectiva deve
ser analisado nos foruns públicos e nas consciências. Não é exagero. Crimes
contra a humanidade não são apenas os genocídios, os etnocídios, os campos de
morte, as torturas, os assassinatos selectivos, as fomes deliberadamente
provocadas, as contaminações massivas, as humilhações como método repressivo da
identidade das vítimas. Crime contra a humanidade é também o que os poderes financeiros
e económicos, com a cumplicidade efectiva ou tácita de os governos, friamente
perpetraram contra milhões de pessoas em todo o mundo, ameaçadas de perder o
que lhes resta, a sua casa e as suas poupanças, depois de terem perdido a única
e tantas vezes escassa fonte de rendimiento, quer dizer, o seu trabalho.
Dizer “Não ao Desemprego” é um dever ético, um imperativo moral. Como o é denunciar que esta situação não a geraram os trabalhadores, que não são os empregados os que devem pagar a estultícia e os erros do sistema.
Dizer “Não ao Desemprego” é um dever ético, um imperativo moral. Como o é denunciar que esta situação não a geraram os trabalhadores, que não são os empregados os que devem pagar a estultícia e os erros do sistema.
Dizer “Não ao Desemprego” é
travar o genocídio lento mas implacável a que o sistema condena milhões de
pessoas. Sabemos que podemos sair desta crise, sabemos que não pedimos a lua. E
sabemos que temos voz para usá-la. Frente à soberba do sistema, invoquemos o
nosso direito à crítica e ao nosso protesto. Eles não sabem tudo.
Equivocaram-se. Enganaram-nos. Não toleremos ser suas vítimas.
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