sábado, 30 de junho de 2012
SEREJO: O encanto de Clarice
Por:
Vicente Serejo
Foi
bem no início dos anos setenta. Este cronista era um jovem de alma tenra, anos
ainda feitos de pouquíssimas descobertas, quando caiu nos olhos, pela primeira
vez, um livro de poucas páginas, a capa tingida de um vermelho acenourado. Uma
publicação do governo do Amazonas, com um título assim: ‘O mundo de Clarice
Lispector’. Acima, um nome desconhecido: Bendito Nunes. Abaixo, uma palavra
entre parêntesis: (ensaio). Dentro, um mundo impenetrável mesmo para um jovem
curioso.
Menino do interior quando chega aqui não é
nunca como menino de cidade. É tanto que arrasta no matolão uma ingenuidade
que, mesmo na idade adulta, aqui e ali, luta para sobreviver entre feras. Anos
depois, o livro guardado e sem uso, ouvi outra vez o nome daquela escritora,
mas já tocada do primeiro encanto, na voz de Caetano Veloso, a perguntar nos
ouvidos deste país tropical: ‘Que mistério tem Clarice?’. Os anos sessenta
ainda ardiam. De Paris a Natal, a Londres Nordestina à beira de mar.
E veio um último encantamento, no Rio, nos belos
salões do Centro Cultural Banco do Brasil, ali na Rua Primeiro de Março, de
espaços ovalados sob uma abóbada dourada e solene. A primeira grande exposição
dedicada a Clarice Lispector com frases cintilando em neons pelas paredes,
fotografias, e aqueles seus olhos amendoados, misteriosos e encantadores.
Descobri ali, naquela manhã, a beleza da mulher e da escritora. E tive inveja
de Diva Cunha que um dia a conheceu, conversou, ouviu sua voz.
Clarice
já estava morta, mas nunca mais deixei de amar Clarice. Do pequeno livro que
guardei sem ler, parti como um descobridor de olhos gulosos. Reuni o que pude
de Benedito Nunes não só sobre a sua obra, seus ensaios que fazem da filosofia
uma ferramenta para olhar a literatura e, sobretudo, olhar Clarice. Hoje tenho
tudo ou quase tudo. De perto e de longe. E sonhei escrever um ensaio sobre suas
reticências, sua incompletude, como se todas as coisas fossem inacabadas. Mas
confesso: cadê tutano?
Não teria a pretensão de descomplicar Clarice.
Pra quê? Um ensaio intencionalmente superado, feito daquela argamassa
impressionista e sem método, longe dos crivos acadêmicos. Uma conversa na sala
de Clarice. Ali, onde ficava com sua máquina de escrever no colo, o cachorro
enroscado nas pernas do sofá, cigarro aceso. Sem medo do seu olhar tão temido,
de falar em bruxas e bruxarias. Talvez sobre a sua paixão impossível por Lúcio
Cardozo a quem, ardendo de desejos, chamou de Corcel de fogo.
Voltaria,
uma a uma, como um rastejador, a todas as suas biografias. Para medir cada olhar,
cada toque sobre a pele. De Nadia Battella Gotlib – Uma História que se Conta –
a Benjamin Moser naquele seu olhar misterioso, com vírgula e sem mais nada,
assim – Clarice, – como se fosse continuar a dizer mais alguma coisa e onde
afirma que o macaibense Renard Perez um dia fez aquela que pode ser a mais
longa e confessional das entrevistas de Clarice. Conversa que Perez incluiu no
segundo volume dos seus Escritores Contemporâneos, Civilização Brasileira, Rio,
1971. Até chegar ao recente olhar português de Carlos Mendes de Souza com as
figuras da escrita.
E
depois, como a cobrir suas pegadas no baixo-relevo das suas leituras e
releituras, percorreria os livros do grande Bendito Nunes. O filósofo do povo
da floresta que faleceu ano passado, aos 81 anos, o primeiro a perceber em
Lispector o tudo pronto, mas inacabado. Só Clarice seria capaz de avisar que
cada pessoa se inventa um dia depois de nascer. Uma pessoa, diz Clarice no seu
grito surdo, nunca é ela mesma. Precisa sempre se reinventar. Ou, numa estocada bem no rosto do leitor: uma
pessoa é outra.
E, a partir daí, misturaria tudo. Sem nenhum
pudor acadêmico, só por não acreditar que seria possível separá-las,
compreendê-las longe uma da outra, distantes como realidades desiguais. A vida
e a obra. Sem nenhuma obrigação de ser original. Talvez com aquele mesmo tom da
magoada frustração que um dia li em André Maurois na abertura do seu ensaio
tristemente belo sobre Catherine Mansfield ao lembrar seu desejo de conversar
com Tchekhov, à noite, num grande quarto um pouco sombrio…
POROCA: Carregar sapos e engolir pedras
José
Carlos L. Poroca - Advogado, executivo do segmento shopping centers
Li
ou ouvi em algum lugar que americana come pedras há mais de 20 anos. A notícia
também falava que o mesmo distúrbio de Dona Teresa, a personagem, leva as
pessoas a comer madeira, roupas, metal e até papel higiênico. Não estou
inventando história. Conheci uma senhora - a avó de Lula e Alexandre - que
ficava cutucando os tijolos do muro da casa, retirando pedaços e levando-os à boca.
Às vezes, ficava com vários pedacinhos na mão como uma espécie de estoque de
reserva. Perguntei a alguém, não lembro quem, porque aquela vovó comia barro.
jcporoca@uol.com.br
Responderam
que o organismo necessitava de ferro e comer barro era uma das formas de
atender a carência pleiteada pelo corpo. Anos na frente, vi documentário sobre
macacos - estou na dúvida se eram gorilas ou orangotangos - que comiam o que já
havia sido descomido. A explicação foi mais ampla: o método servia para
reprocessar o que não pode ser absorvido no primeiro processamento.
O
processo de sobrevivência imposto pela natureza vai de uma linha que a gente
pode chamar de natural ou de instinto - a critério do freguês -, como a que
vivem os animais que comem plantas para mexer no metabolismo interno e para
'curar' indisposições, até outra, no campo oposto, onde se encontram as
espécies pensantes que se alimentam do necessário, do mais que necessário, do
inimaginável e do inusitado, como o personagem da letra/música de Carlos Lyra e
Vinicius de Moraes, que comia "vrídio" na Praia de Copacabana para
juntar uma graninha.
A
história (ficção) já completou 1/2 século e o País, que tem a 7ª ou 8ª economia
do mundo, ainda convive com os seus comedores de giletes. Hoje, as lâminas são
outras e descem goela abaixo sem pedir 'por favor' ou 'com licença'. Começa
pela 'navalha' chamada de imposto de renda, de apetite incontrolável, caminha
por uma carga tributária que, de tanto receber medalhas de prata e ouro, não
pode mais concorrer, é hors-concours. A fila aumenta com a compensação que
precisa ser dada para cobrir os buracos dos que 'bicam' um naco aqui e outro
ali, produzindo o que pode ser chamado de esforço improdutivo para quem paga
tributo, ou, de outro modo, um passo para frente e dois para trás.
O
Brasil desenvolvido ainda tem outros tipos de comedores de giletes: os que vão
para os lixões atrás de sobras e do sustento; os que comem produtos com volume
e peso, que dão a sensação de 'boa sustância'; e os que colocam para dentro o
que lhes aparece: preás, lagartos e assemelhados, tanajuras e tatus, para
completar a carga. Há outro tipo, especial, que um dia foi chamado de classe
média. Não a de hoje, que subiu degraus sem preencher os requisitos de renda
para a classificação adequada.
A
classe média brasileira 'prepetê' - aquela que se enquadrava numa determinada
faixa de renda para ficar entre os ricos e os pobres - está no desgastante
estica e puxa, sendo obrigada a um esforço inglório de ter que carregar sapos e
engolir pedras, sem poder fazer cara feia, numa situação muito parecida com a
dos hermanos
argentinos: sem tango e com remota chance de volta.
domingo, 17 de junho de 2012
SEREJO: Luz no Vaticano
Por:
Vicente Serejo
De
vez em quando, Senhor Redator, esta coluna paga um tributo pela pobre ousadia
de noticiar o que alguns consideram segredos de sacristia. É que para alguns
clérigos mais conservadores o sol forte da opinião pública não deve cair sobre
as igrejas entrando pelas frestas. Não notam que hoje os olhos do mundo não
estão mais fora dos muros do Vaticano e por isso se surpreendem, habituados ao
jogo de poder que durante séculos foi pecado, quando eram pecadores os que
tentavam descobrir seus segredos.
O
nariz de cera, bem de doze, é só para dizer que no dia 15 de abril o jornal
Público, de Lisboa, estampava na primeira página da edição de domingo, o mais
lida pelo católico povo português, a crise que desabou sobre o Vaticano. Ainda
não era como depois passou a ser, um noticiário intenso, além de alguns textos
de especialistas italianos, numa realidade aberta. Ali o jornal já denunciava, e com amplos
detalhes, o que chamou de uma perda de controle do Papa Bento XVI e de um perigoso
clima de cisma.
A
Igreja sempre enfrentou crises ao longo dos seus mais de dois mil anos. Se de
um lado sua bela longevidade a faz eterna, de outro gera por isso mesmo uma
disputa de espaços entre dogmas e leis. Não é difícil para os grandes analistas
europeus essa tarefa de identificar os problemas e fragilidades de uma Igreja
que ao mesmo tempo é Estado. Mesmo quando envolve a vida de sua santidade, o
Pontífice, a quem a tradição ungiu acima do erro quando prega a palavra de
Deus, mas é humano enquanto chefe.
Imagine se esta coluna provinciana, por alguma
razão curiosa, começasse um texto sobre nossa Cúria Natalense, assim: ‘A Cúria
Romana tornou-se um monstro ingovernável que o próprio Papa, de perfil,
sobretudo, intelectual e acadêmico, já não consegue controlar’. Pois é assim
que começa o longo texto de António Marujo, correspondente do jornal Público
junto ao Vaticano. E logo depois afirma de vez: ‘A estrutura central do
catolicismo parece colada com cuspo. Bento XVI já não tem mão na Cúria’.
Isto mostra, Senhor Redator, que não há mais
espaço inviolável no mundo. Nem na Igreja. A não ser os seus sacrários. E não é
lá que estão – acredite – os muitos e graves interesses que hoje gravitam em
torno dos velhos muros vaticanos. Dentro e fora há articulações que pelejam
entre conflitos e tradições hoje contestadas, e denúncias de corrupção, como o
roubo de cartas e documentos dirigidos ao Papa, fato que acabou determinando a
prisão do seu mordomo, o que não é comum na vida da Cúria Romana.
Culto, embora demonstrando não ser mais um
administrador de pulso forte, Bento XVI há pouco tempo, na sua fala no
Consistório, ao anunciar a nomeação de 22 novos cardeais, avisou àqueles que
ainda tinham dúvidas que não acreditassem, como futuros administradores, nos
‘sonhos de glória’. Cardíaco e frágil, mesmo discreto na doença, Sua Santidade
sabe da força política incontrolável do ambicioso cardeal Tarcisio Bertone. É
mais ousado do que ele próprio foi no reinado de João Paulo II.
POROCA: Para quê?
José
Carlos L. Poroca
Executivo do segmento de shopping centers
jcporoca@uol.com.br
Executivo do segmento de shopping centers
jcporoca@uol.com.br
Tenho
vivido uma nova fase de porquês. Uma criaturazinha de pouco mais de dois anos e
meio é a principal responsável, naquela fase da extrema curiosidade e da
necessidade de entender coisas que nós, adultos e adúlteros, não conseguimos
explicar. Não tem nada a ver com grandes mistérios, como o da Santíssima
Trindade. Coisas simples, que às vezes não temos condições de responder ou,
dizendo melhor, não sabemos responder de forma convincente. Vem o primeiro
"por que?"; a seguir, o segundo e o terceiro, desdobramento do
primeiro, e assim por diante.
Além
de tentar me desdobrar na tentativa de buscar explicação para o nem sempre
explicável, também estou vivendo outra fase, a do "para que?". É
provável que seja fruto da idade. Já passei dos 40 - estou repetindo para quem
não sabe ou para os mais curiosos. Sou um jovem, quase um adolescente. Votei
pela primeira vez na eleição presidencial no final da década de 80 (Collor x
Lula). Idade à parte, repito que estou tendo as duas experiências ("por
que?" e "para que?") nas duas pontas e, se não pirar até a Copa
de 2014, passarei para a fase seguinte. É certo que lá encontrarei uma
bifurcação mostrando dois caminhos: o renascimento ou a ressurreição. Não são
iguais. Não dá para explicar, não neste momento, não neste espaço.
Um
dos últimos "para que?" surgiu a partir de notícia divulgada na mídia
sobre um leilão de uma calcinha da Rainha Elizabeth II, vendida por US$ 18mil
(cerca de R$ 36mil, o preço de um automóvel). A peça, com monograma real, foi
esquecida pela monarca num país sul-americano que a rainha visitou há alguns
anos. Não vejo nada de excepcional no esquecimento (rainhas também tem lapsos
de memória) e não vejo como incomum o fato de alguém guardar a calçola de uma
celebridade como recordação. Conheço uma pessoa que ficou quinze dias sem lavar
o rosto beijado por um famoso. Quando a coisa estava ficando feia (e suja) a
mãe deu duas opções: água e sabão ou o chinelo. Marque opção1. Volto à calçola.
O que me deixa intrigado e curioso é: o que arrematante vai fazer com a dita
lingerie britânica?
Surge
um "para que?" a cada dia. Basta abrir um jornal ou acessar qualquer
portal de notícias na Internet. Promover enchimento exagerado de seios e dos
glúteos: para que? Desembolsar mais de um milhão de dólares por carrão para
ficar se exibindo no engarrafamento de qualquer capital brasileira: para que?
Construir mansão de vinte quartos quando só moram no espaço três pessoas, não
mais que quatro ou cinco: para que? Fazer das tripas coração para fazer
cirurgias de tentar embelezar o que não pode ser embelezado: para que? Marcar
ponto na igreja toda semana, quando a alma já está 'encomendada': para que?
A
lista é extensa e vou parar por aqui. Cada um faz o que quer de sua vida e não
cabe a mim ficar fazendo questionamentos sobre comportamentos e sobre o uso de
grana alheia. Minto. Há um "pra que?" que envolve a minha
contribuição e, como tal, tenho o dever de questionar: gastar milhões para
promover uma CPI que já se sabe o resultado: para que?
segunda-feira, 11 de junho de 2012
SEREJO: Da Ensinança de bem cavalgar
Por:
Vicente Serejo
Há
alguns meses, acho que ainda no início do ano, registrei aqui o lançamento do
Dicionário do Cavalo – grandeza e legado, de Claudio Fornari e Lannes Caminha,
edição do Senado Federal. Volume de quinhentas páginas, com mancha impressa
disposta em duas colunas, e que já nasceu com o timbre dos livros
indispensáveis. Do que nos fala de perto, e é justo citar, a presença na
bibliografia de Veríssimo de Melo e Oswaldo Lamartine, assim como uma estranha
ausência do grandioso sertão de Câmara Cascudo.
Deixei
prometido que falaria do cavalo nordestino, nascido do chão e das águas velhas
dos rios da tradição sertaneja. Para não ser acusado de deslembrado, pago a
dívida. Convivi com Oswaldo Lamartine e, da convivência, nutri uns tantos
saberes e uns tantos gostos, todos refinados, daí – pra que negar? – o requinte
de algumas presenças silenciosas nestas prateleiras. Como duas edições, uma
mais nova e mais completa, do Livro de Ensinança de Bem Cavalgar toda Sela, do
prendadíssimo El-Rey Dom Duarte.
Oswaldo
conhecia como poucos a história do cavalo. Era por gosto e prazer que falava
sobre a origem do cavalo nordestino que um dia foi nobre, vindo dos velhíssimos
prados da Península Ibérica para se adaptar ao sertão, e formando, o homem e o
bicho, um conjunto perfeito. Baixo e mirrado, como ele gostava de dizer, de
andadura segura e casco rígido a suportar, sem medo e sem dor, o chão duro do
sertão; pulmão forte, esgueirando-se, o vaqueiro e o homem, debaixo da galharia
espinhosa da caatinga.
Pois
bem. Conhecia e usava a expressão Marialvas, de origem portuguesa, século
dezessete, e que se usava para designar a qualidade de bom cavaleiro, discípulo
do Marquês de Marialva. Tanto sabia que dizia ter sido Eloy de Souza um dos
maiores Marialvas no sertão do Rio Grande do Norte, no toque leve e majestoso
das rédeas. Mas, estranhamente, não fez constar no seu Vocabulário do Criatório
que escreveu de parceria com Guilherme de Azevedo com duas edições, a segunda
de 1997, esta revisada e definitiva.
E se não fez constar os verbetes Marialvas e
Marialvismo, como estão nas páginas do Dicionário do Cavalo, foi por alguma
razão. Nada naqueles seus olhos miúdos e enxutos sobrava ou faltava quando
derramados sobre a paisagem íntima do sertão. A explicação está na página 81 do
seu Vocabulário, no verbete Galvão. Talvez, para o desavisado do mundo
sertanejo, tivesse sido mais objetivo fazer a entrada na letra ‘s’ – Sinais de
Galvão. Preferiu assim, desobrigando o leitor da busca pela vaga expressão
sinais.
Na
verdade, Senhor Redator, e salvaguardados esses detalhes, é essencial fixar a
importância dos Sinais de Galvão para que o leitor não julgue ser esta conversa
um devaneio vadio e sem prumo. Oswaldo preferiu ir ao sertão para registrar ter
sido Galvão ‘mestre entre a vaqueirice do sertão velho’, o autor das regras
seletivas para os cavalos ‘baseadas em seu exterior’. E completa: ‘Até hoje o
seu nome é sinônimo de grande conhecedor de cavalos’. E vai citar todas as suas
leituras que começam em Florival Seraine.
Oswaldo
ergue o verbete Galvão sem medir espaço, cheio de citações, preenchendo o vazio
que ficara na primeira edição do Vocabulário do Criatório, pelo Serviço de
Informação Agrícola, Coleção Estudos Brasileiros n. 23, Rio, 1966. Na verdade,
ele leu o único exemplar original que existe no Brasil, no Real Gabinete
Português de Leitura do livro Arte de Cavalaria de Gineta e Estardiota; bom
humor de ferrar e alveitaria. E só para saber a origem de Galvão e seus sinais,
bons e maus, no clássico português.
Os Sinais de Galvão foram polêmicos no Ceará.
Martinz de Aguiar publicou artigo sobre suas raízes na Revista do Instituto
Histórico do Ceará em 1934, e foi contestado pelo folclorista Leonardo Motta no
jornal A Rua, novembro do mesmo ano. Aguiar respondeu, fechando o debate. Na
Antologia do Folclore Cearense, Lourival Seraine, o organizador, não abrigou a
luta. Fez constar o artigo de Martinz de Aguiar para representá-lo e de
Leonardo Mota o ensaio A Poesia dos Cantadores, retirado do livro Cantadores,
prefácio de Câmara Cascudo. É tudo que existe aqui, Senhor Redator, sobre Os
Sinais de Galvão. Fica o registro da ausência no Dicionário do Cavalo. Eis a
paga, portanto, da dívida prometida.
Escritor Ivan Lessa morre em Londres
Por
Redação, com BBC – Brasil
Escritor
e cronista, Ivan Lessa morre aos 77 anos em sua casa em Londres
O
escritor e cronista Ivan Lessa, colunista da BBC Brasil, morreu na tarde da
última sexta-feira em Londres, aos 77 anos.
Ivan
era colaborador da BBC desde janeiro de 1978, quando deixou o Brasil para se
radicar na capital britânica.
Ao
lado de nomes como Millôr Fernandes, Jaguar, Ziraldo, Tarso de Castro e Sérgio
Cabral, ele foi dos fundadores do jornal O Pasquim, que ganhou fama com a
resistência à censura promovida pela ditadura militar.
Ao
lado do cartunista Jaguar, também cofundador do Pasquim, criou o personagem
Sig, o ratinho inspirado em Sigmund Freud que se tornou o símbolo da
publicação.
Ivan
publicou três livros - Garotos da Fuzarca (1986), Ivan Vê o Mundo – Crônicas de
Londres (1999) e O Luar e a Rainha (2005). Também participou do livro Eles Foram
para Petrópolis, de 2009, uma compilação da sua troca de correspondência por
e-mails com o amigo e também jornalista Mario Sérgio Conti.
Ele
também trabalhou na TV Globo e foi colaborador de diversas publicações
brasileiras, entre elas as revistas Senhor, Veja e Playboy, e os jornais Folha
de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e o Jornal do Brasil.
Nos
últimos anos, Ivan vinha publicando três colunas semanais no site da BBC Brasil
– a última delas publicada na manhã de sexta-feira.
Antes
de se mudar definitivamente para a Grã-Breranha, em 1978, o escritor já havia
passado um período de três anos na cidade, entre 1968 e 1972, também
trabalhando para o então chamado serviço brasileiro da BBC de Londres.
Após
sua mudança, em 1978, ele retornou apenas uma vez ao Brasil, para uma breve
visita em 2006, a convite da revista Piauí, para escrever um artigo sobre suas
impressões do Rio de Janeiro após 28 anos de ausência.
Ivan Lessa morre em Londres; leia sua última crônica
Por
Vermelho
O
jornalista, cronista e escritor Ivan Lessa, de 77 anos, morreu nesta
sexta-feira (8) em sua casa em Londres. Lessa morava na Inglaterra desde 1978 e
era colunista da BBC Brasil.
Ivan
Pinheiro Themudo Lessa nasceu em 9 de maio de 1935, em São Paulo, mas foi
criado no Rio de Janeiro.
Segundo
sua viúva, Elizabeth, ele sofria de enfisema pulmonar e tinha problemas
respiratórios graves. Mas o motivo da morte ainda não é conhecido. Ela disse
que, ao chegar à noite em casa, encontrou Ivan Lessa morto em seu escritório.
Ela estima que ele tenha morrido entre as 16h e as 18h30, pelo horário local.
Foi
fundador, em 1969, e um dos principais colaboradores do jornal critico e
satírico “O Pasquim”, durante os anos de resistência à ditadura militar
brasileira.
No
“Pasquim”, ele escreveu, entre outras, a coluna “Gip! Gip! Nheco! Nheco!”,
“Fotonovelas” e os “Diários de Londres”. Ele também criou, em parceria com o
cartunista Jaguar, o ratinho Sig, símbolo da publicação.
Ivan
Lessa trabalhou e colaborou com vários órgãos de imprensa, como a TV Globo, as
revistas “Senhor”, “Veja” e “Playboy” e os jornais “Folha de S. Paulo”, “Estado
de S.Paulo”, “Jornal do Brasil” e “Gazeta Mercantil”. Também trabalhou como
publicitário.
Leia
sua última coluna, publicada na manhã da sexta-feira (8) em que Lessa ironiza a
morte:
Orlando
Porto. Taí um nome como outro qualquer. Podia ser corretor de imóveis,
deputado, ministro, farmacêutico. Mas não é. Trata-se de um anagrama de um
escritor francês – e ator e ilustrador bom e autor e figurinha difícil francesa
e aquilo que se poderia chamar de “frasista”.
Feio
como um demônio, no meio da década de 1950 cansei de dar com ele dando comigo
lá pelo Boulevard St. Germain, cheretando o Flore, o Lipp, fazia uma cara que
quem ia dizer algo importante e logo sumia na companhia do Jean-Pierre Léaud,
aquele maluquinho dos filmes autobiográficos do Truffaut.
Dupla
estranha. Os desenhos do – esse seu nome, artístico ou de batismo, Roland
Topor- eram bacaninhas. Mas sempre foi Orlando Porto para mim.
Fez
cinema também. O Inquilino do Polanski, o Reinfeld de Nosferatu, do Werner
Herzog. Até que bateu o que ocultava seus pés: umas botas estranhas como ele.
De
vez em quando, numa revista esotérica, dou com ele. Ei-lo numa em inglês com
“100 boas frases para eu matar agorinha mesmo”. Se chegou ao fim, e chegou, foi
pelo cachê. Meros galicismos literários.
E
aí trago à cena, mais uma vez, porque cismei, mestre Millôr Fernandes. Esse era
profissional. Nada a ver com “frasista”. Trabalhava com a enxada dura da
língua. Nunca para dar a cara no Flore, principalmente com Topor e Léaud.
Reli
umas 100 frases do Orlando, ou Topor, e não resisti à tentação de, em algumas
delas dar-lhes uma ginga por cima e outra por baixo, à maneira do frescobol
querido do mestre, só para exercitar os músculos muito fora de forma.
Cem
razões: Faço por bem menos, mas mais Copacabana e Leblon. Algumas raquetadas
minhas em homenagem ao mestre cuja falta continuo sentindo:
-
Melhor maneira de verificar, antes, se já não estou morto.
-
Mas não se mata cavalos e malfeitores?
-
Pelo menos eu driblaria o câncer.
-
Milênio algum jamais me assustará.
-
Apanhei-te horóscopo! Pura enganação!
-
Levo comigo a reputação de meu terapeuta.
-
Pronto, agora não voto mais mesmo! Chegou!
-
Aí está: uma cura definitiva para a calvície.
-
Enfim cavaleiro do reino de sei lá o quê.
-
A vida está pelos olhos da cara. Pra morte eles fazem um precinho especial,
combinado?
-
Enfim, ano bissexto nunca mais. Esses ficam para o Jaguar. O resto pro Ziraldo.
-
Ao menos é uma boca de menos a sustentar.
-
Só quero ver quanta gente vai sincera no meu funeral.
-
Pronto! Inaugurei estilo novo: Arte Morta.
-
Sabe que minha vida não daria um filme. O livro eu já escrevi. Deixem o
desgraçado em paz, peço-lhes.
-
Custou, mas estou acima de qualquer lei que vocês bolarem aí.
-
Levou tempo, mas cortei enfim meu cordão umbilical.
-
Roncar, nunca mais. Nem eu nem ninguém ao meu lado.
-
Que desperdício nunca ter fumado em minha vida!
-
Consegui preservar o mistério sempre girando em meu torno.
-
Maioria silenciosa? Essa agora é comigo.
-
Na verdade, nunca me senti à vontade nessa posição incômoda de cidadão do
mundo.
-
Ei, juventude, pode vir que pelo menos uma vaga está aberta.
-
Emagrecer é isso aqui.
-
Agora é conferir se, do outro lado, sobraram tantas virgens assim.
E
assim, cada vez que um “frasista” passar por perto de mim, leve uma nossa:
minha e de Millôr. Dois contra um, a gente ganha mole.
Com
informações do G1
sábado, 9 de junho de 2012
SEREJO: Fermento na massa
Por:
Vicente Serejo
Em
2001, foi fundado o Centro de Convivência Espaço Solidário, em Mãe Luiza, pelo
padre Sabino Gentili. Esse Espaço fora fruto do projeto Amigos da Comunidade,
do Centro Sócio-Pastoral N. Sra. da Conceição (CSPNSC) de Mãe Luiza, que
identificou grande número de idosos em situação de abandono. Assim, mais uma
demanda social era alvo de uma ação concreta de uma comunidade que tem urgência
de que as políticas públicas funcionem, mas que continua desassistida por
estas.
Quando o Centro Sócio-Pastoral N. Sra. da
Conceição (CSPNSC) é erguido, em Mãe Luiza, em regime de mutirão, há um
histórico de lutas da comunidade para permanecer no bairro. Era o ano de 1983.
Na sua Ata de fundação, o padre Sabino Gentili, seu idealizador e fundador,
afirma que o Centro deverá ser espaço de vivência para toda a comunidade e um
instrumento para que esta pense sobre seus problemas e busque as alternativas
para solucioná-los. E assim vem sendo.
O depoimento do saudoso padre Sabino nos diz
que uma das primeiras ações do Centro foi a partir da doação de um dinheiro que
sobrara da colação de grau de uma turma de Direito da UFRN. Havia muita gente
morando precariamente. Então, formou-se uma comissão do próprio bairro para
tomar conta do dinheiro e ajudar algumas
dessas pessoas que viviam em situação degradante a melhorar as suas moradias.
Também os conflitos com os fiscais da prefeitura eram constantes. Quem não
lembra do terrível Eliseu Satanás? Aquele que não tinha nem dó nem piedade de
derrubar os barracos de muitas famílias… Tanto que virou bordão: “Eliseu
Satanás derrubava os barracos de dia e o povo os levantava de noite”. Também
aí, foi o Centro Sócio-Pastoral o apoio de muita gente sem-teto que buscava
permanecer lutando por seu pedaço de chão.
Então, o CSPNSC, instrumento da ação de padre
Sabino Gentili, deu respaldo às demandas da comunidade de Mãe Luiza: tornou-se
espaço de reunião, aberto a toda a comunidade; passou a abrigar projetos vários
em atenção à criança, ao adolescente, à formação profissional, ao idoso. Na
oferta de educação infantil, de reforço escolar, de alfabetização de jovens e
adultos; de cursos profissionalizantes e de preparação par ao vestibular, de
idiomas; na assistência à saúde de crianças, gestantes e idosos. Recebeu até
prêmio do UNICEF pelo projeto “Amigos da Comunidade, que consistia em
identificar, encaminhar ao médico e acompanhar mães gestantes e crianças até 1
ano de idade ou que estivessem em estado de desnutrição. A ação reduziu a
mortalidade infantil no bairro, que hoje se assemelha a padrões europeus.
Mais que tudo, esse espaço de convivência,
sonhado por padre Sabino, tornou-se realmente a referência quando o assunto é
mobilização comunitária. Tendo a tolerância e o diálogo como principais
ferramentas, o CSPNSC é aquele laboratório onde se gestam idéias, onde se
provocam as pessoas para que falem de sua vida, de seus problemas, que também
se misturam com os da comunidade. Nesse processo, educa-se para que as pessoas
caminhem com as próprias pernas, para que não desistam de sonhar nem de lutar.
Educa-se para que o sentido da vida em comum não se perca para que não se
percam os filhos de Mãe Luiza.
Lá
se vão 29 anos, desde a sua fundação. Três espaços instituídos pelo Centro
Sócio cumprem a tarefa hercúlea de cuidar da parcela mais desassistida pelos
serviços públicos: a Escola Espaço Livre, que atende 210 crianças na Educação
Infantil; a Casa Crescer, escola de segundo turno para crianças e adolescentes
com dificuldades na escola de leitura, escrita e matemática. Além do reforço, a
Casa Crescer atua para o desenvolvimento da sensibilidade estética e do
espírito esportivo dessas crianças e jovens. E o Espaço Solidário, lar de
convivência para idosos em situação de risco social, que atende em torno de 25
idosos que moram lá, além de mais de 30 que passam o dia na Instituição.
Neste ano de 2012, será iniciada uma campanha
de ajuda para autossustentação do Espaço Solidário, que vive de doações e do
que deveria ser o repasse financeiro da Prefeitura de Natal ao abrigo.
É preciso que a sociedade se sensibilize com a
causa daqueles que já deram sua parcela de contribuição à vida deste País, mas
cujo retorno tem sido na maioria das vezes a exclusão social.
Mãe
Luiza, com todas as suas carências, dá uma lição de vida, ao se prontificar a
cuidar de seus idosos. Assim, espera-se que as demais parcelas da população,
cristãs ou não, de posição moral em favor da família, de militância contra a
exclusão, de discurso em prol da solidariedade e do companheirismo demonstrem
todo esse espírito de alteridade, numa ação concreta em favor dos idosos do
Espaço Solidário.
Estudo da OIT identifica quase 21 milhões de pessoas vítimas de trabalho forçado no mundo
Quase
21 milhões de pessoas são vítimas de trabalho forçado no mundo, sendo 90% delas
exploradas em atividades da economia privada, por indivíduos ou empresas, revela
um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) lançado hoje (1/07).
Já a participação de Estados foi identificada na exploração do trabalho forçado
em 2,2 milhões dos casos, em prisões que violam normas internacionais ou
atividades impostas por forças armadas rebeldes ou exércitos nacionais.
O
estudo, intitulado “Estimativa Global da OIT sobre Trabalho Forçado 2012″,
detalha as diferentes violações e a incidência nos setores da economia: 4,5
milhões (22%) são vítimas de exploração sexual forçada e 14,2 milhões (68%) são
vítimas de exploração do trabalho forçado em atividades econômicas como
agricultura, construção civil, trabalho doméstico ou industrial.
“Percorremos
um longo caminho nos últimos sete anos desde quando apresentamos as primeiras
estimativas sobre o número de pessoas em trabalho ou serviços forçados no
mundo. Também tivemos progresso ao assegurar que a maioria dos países tenham
uma legislação que penalize o trabalho forçado, o tráfico de seres humanos e as
práticas análogas à escravidão”, declarou Diretora do Programa Especial de Ação
para Combater o Trabalho Forçado da OIT, Beate Andrees.
Observando
a idade dos trabalhadores forçados, 5,5 milhões (26%) estão abaixo de 18 anos.
A região de Ásia e Pacífico apresenta o número mais alto de trabalhadores
forçados no mundo, com 11,7 milhões de vítimas (56 % do total geral), seguida
pela África, com 3,7 milhões (18%) e América Latina, com 1,8 milhão (9%).
Mundo avança em apenas quatro das 90 metas para meio ambiente, revela relatório do PNUMA
O
mundo avançou em apenas quatro das 90 metas e objetivos para o meio ambiente
contidas em acordos internacionais, revelou a quinta edição do Panorama
Ambiental Global (GEO-5, na sigla em inglês) lançado hoje (06/06) pelo Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA), no Rio de Janeiro. Houve avanços apenas nas metas de
eliminação da produção e uso de substâncias que destroem a camada de ozônio, na
eliminação do uso de chumbo em combustíveis, no acesso crescente a fontes
melhoradas de água e em mais pesquisas para reduzir a poluição do meio ambiente
marinho.
“Este
relatório fala diretamente à Rio+20. É um trabalho feito pelo PNUMA em nome das
Nações Unidas como uma contribuição para as discussões da Conferência. Fala
sobre um novo entendimento do ambientalismo no século XXI, mostrando fatos e
caminhos para o debate”, afirmou o Diretor Executivo do PNUMA, Achim Steiner.
Ele também destacou que, se forem mantidas as atuais tendências de consumo de
recursos naturais, logo os governos precisarão “administrar níveis sem
precedentes de danos e degradação” e a solução pode estar na implementação
global do conceito de Economia Verde. No conteúdo do GEO-5 ainda estão destacados
estudos de caso e boas práticas já aplicadas pelo mundo e que são exemplos de
desenvolvimento sustentável e respeito ao meio ambiente.
Na
cerimônia de lançamento do GEO-5 estiveram presentes além do Diretor Executivo
do PNUMA, a Coordenadora Executiva da Conferência Rio+20, Henrietta Elizabeth
Thompson, a Chefe do Setor de Avaliação Científica do Programa, Fatoumata
Keita-Ouane, o Secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e
Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil, Carlos Nobre,
e o Secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Brasil, Carlos
Klink.
A
Coordenadora Executiva da ONU para a Rio+20, Henrietta Elizabeth Thompson,
considera que o GEO-5 é uma das mais importantes ferramentas para as discussões
sobre meio ambiente já feitas pela ONU. “Acredito que o lançamento desse
relatório deve significar aos países, empresas, cidadãos, líderes, o porquê de
estarmos aqui no Rio. O Geo-5 nos apresenta o atual estado do planeta e mostra
as consequências sociais, econômicas e ambientais se não tomarmos as decisões
apropriadas nos próximos dias. Esta Conferência pode ser a plataforma para
servir na transição do mundo para uma economia em que tenhamos maior respeito
aos recursos naturais e a forma com os consumimos, com um maior investimento em
capital humano, social e natural pensando no desenvolvimento que seja
sustentável”.
Especificamente
para o Brasil, o GEO-5 diz que o desafio abrange dois componentes. O primeiro
determina a busca de melhoria da qualidade de vida nas áreas já ocupadas,
sobretudo nas grandes áreas urbanas, onde as concentrações populacionais estão
degradando em ampla escala os recursos naturais (água, por exemplo). O segundo
desafio consiste em garantir a preservação e exploração consciente dos recursos
naturais restantes através da gestão sustentável desses recursos.
Após
o lançamento do GEO-5 foi realizado um debate com especialistas que
participaram do relatório.
sexta-feira, 8 de junho de 2012
POROCA: Vou morrer
Por: José Carlos L. Poroca
Executivo de Shopping Centers
Executivo de Shopping Centers
Ao
dizer “vou morrer” posso não estar dizendo nada, absolutamente nada. É o
destino de todos nós, valendo até para os que receberam o canudo de imortais.
Também não quero fazer drama ou inventar doença, para amolecer corações e obter
vantagens de qualquer natureza. Pode ser que, neste momento, seja portador de
algum mal que antecipe o meu ‘até logo’ ou o meu ‘adeus’, mas, por suposição,
nada que não possa aguardar a Copa de 2014.
Ao
dizer “vou morrer”, assim, de supetão, posso estar decepcionando os mais
próximos que aguardavam a promessa feita de superar o recorde familiar
pertencente a meu pai, que emplacou cem anos e dois meses. Mas, entendam, agora
admito, ele viveu num tempo em que a palavra empenhada era mais forte que o
papel assinado. Hoje, nem a assinatura reconhecida em cartório tem valia, é
vista com desdém, como ‘coisa do passado’.
Quero
justificar o “vou morrer” pelo choque que se repete a cada trinta dias quando
recebo o contracheque. A distância entre o bruto e o líquido é quase a
distância entre a terra e a lua. O esforço é inglório: trabalho doze meses no
ano e só chegam menos de oito meses na minha conta. É como se o meu motorzinho
tivesse uma configuração de 120hps (exagerei?) e fosse dele exigido uma
produtividade de 150 a 160hps. A máquina não aguenta.
Se
não for pelo esforço, há outras hipóteses pela possibilidade de antecipação do
the end: a bala e o susto. Descarto o vício – que seria a terceira hipótese –
porque os meus vícios não fazem mal, ou, melhor dizendo, fazem um mal pequeno,
menor. A bala poderá vir de qualquer lado, de cima ou de baixo, nunca se sabe.
Do jeito que as balas estão indisciplinadas, poderei ser atingido até nos
sonhos. Se for assim, menos mal: mesmo com o sangue e a dor da cena, ficarei
satisfeito porque o acordar virá mais cedo ou mais tarde, o que não impedirá
nem diminuirá o risco do furo no peito ou na cabeça que todo brasileiro pode
levar nos tempos de hoje.
O
susto tem tudo para ser a causa mortis, já admitindo que nenhum profissional vá
querer colocar que o óbito ocorreu pela ação inesperada que interferiu no
metabolismo ou que foi excesso de adrenalina provocado por forte emoção.
Independente do que vai no obituário, repito que o susto é a bola da vez, o
mais cotado, o que tem mais chances. Não à toa. As emoções do dia a dia, seja
pela perda do campeonato do meu time, seja pelo aparecimento como corrupto de
paladino que se apostava como exceção à regra. E nem vou falar noutras emoções
vividas pelos portadores de carteira profissional, que precisam derrubar uma
alcateia por dia.
O
coraçãozinho é forte e aguentará os trancos até quando chegar a hora. Enquanto
o trem não vem, apelo para os amigos e para quem ler este trecho: contribuam
para que os anos vindouros sejam mais agradáveis e mais confortáveis para este
nordestino de sobrenome dinamarquês. A casa aceita dinheiro (real, dólar, euro
– tanto faz), cheques com suficiência de fundos, pacotes de viagem (Europa,
preferencialmente). Se for na executiva, melhor. A família agradece.
SEREJO: Oposição?
Por:
Vicente Serejo
Nem
diria, Senhor Redator, da bizarrice que é a aliança PMDB-DEM nesta terra que
foi berço de Poti. Ele mesmo, o Camarão, se nosso ou dos pernambucanos, pouco
importa, tinha também seus encantos pelo poder. Tanto é verdade que os
poderosos da época lhe outorgaram um título inventado de Governador Geral dos
Índios do Brasil e ele nunca mais lutou. Virou um herói a favor que, de resto,
é o que há de mais melancólico na vida de um guerreiro. E ficamos assim até
esses dias feios de hoje.
Na beleza deste rio, neste mar e nestas dunas
não há mais uma vocação oposicionista. Houve no passado, embora cruel para não
dizer desumana. Quando Cortez Pereira foi vítima de um furor que o massacrou
com um tropel enlouquecido. Até quase nada restar, se é que pode ficar alguma
coisa num homem cassado, exilado na própria casa, sitiado pela injustiça,
prisioneiro da vergonha diante da sua família e do seu povo. E morrer alguns
anos depois sem riqueza, a não ser o que sempre teve na vida.
Ali, uma Paz Pública nascida no lodo dos
interesses palacianos matou a oposição para sempre. E ficou tão morta que
quando o próprio Aluizio Alves tentou reacendê-la nas ruas contra ‘o menino de
Tarcísio’, era tarde. O velho feiticeiro de sessenta já não tinha aquela magia
a desfazer o feitiço do mal e tombou derrotado por mais de cem mil votos nas
ruas da cidade onde ele havia sido seu maior líder popular. Nunca mais houve
oposição. Só uma troca de guarda entre adversários e correligionários. Só.
De lá pra cá, são os mesmos. Sempre. José
Agripino e Wilma de Faria numa eleição se aliavam e na outra se enfrentavam,
assim como contra e a favor de Henrique Alves e Garibaldi Filho. Acima ou
abaixo dos partidos com suas bandeiras rotas e descoloridas. E viemos, eleição
a eleição, aferventando simulacros até hoje. De quando em vez, um instante de
perfeição perversa, como quando o PMDB foi às ruas e derrotou o senador
Fernando Bezerra, velho amigo de décadas, para eleger Rosalba Ciarlini.
Não
há mais correligionários e adversários no Rio Grande do Norte nas últimas
décadas. Estamos diante de um imenso governo que se metamorfoseia a cada nova
situação alternando os pólos de situação e oposição, controlando a todos e a
cada um dando uma ração de cargo público em troca do silêncio quieto. E como
não se faz uma sociedade democrática sem pólos em torno dos quais possam girar
os centros de força de cada luta, coube à sociedade ir às ruas, avaliar e
julgar os agentes políticos.
Esta
pode ser a razão do que dizem ser o inimigo invisível que avalia, julga e até
agora condena o governo Rosalba Ciarlini. Está nas ruas a reação. Sem líder e
sem retórica. Num silêncio eloqüente que hoje desafia os bruxos do marketing.
Como se não bastasse, o novo episódio com o PSB cobra a expulsar dois
vereadores por um compromisso da ex-governadora de última hora, vinte e quatro
antes da votação da Câmara, na ânsia de simular o apoio que a pressa revelou
ser um retrato da rendição.
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Poroca: O Beco
José
Carlos L. Poroca // Executivo do segmento shopping centers
jcporoca@uol.com.br
Dona
Iraci recomendava o andar só ("antes só...") e distância nas
discussões que envolvessem três temas palpitantes: política, futebol e
religião. Havia outro assunto que recomendava cautela, pela complexidade e
pelos mistérios em torno dele. Só direi que começa com a letra 'm', para evitar
xingamentos de qualquer ordem a este cristão e, principalmente, à mulher do meu
pai, que não merece qualquer tipo de ofensa por desejar o bem do filhote..
Aproveito
o ensejo para pedir tardiamente desculpas a quem me deu carinho e atenção até o
final da vida, seguindo a velha máxima "mãe é mãe, paca é paca..." e
o resto fica por conta dos rimadores. Não segui as lições e vez ou outra
descumpro as orientações maternas. Chego a acreditar que as recomendações se
perderiam no tempo ou seriam, digamos, repaginadas, diante do que se vê nos
dias atuais. Mesmo que não queira, estamos envolvidos com os três temas, às
vezes até o pescoço, de forma direta ou pelas vias indiretas.
Não
há como deixar de lado o "último desvio" ou passar a mão na cabeça do
"corrupto da vez". Não dá para fechar os olhos para o caótico
trânsito, para a (in)segurança de dia ou de noite, para as vias públicas mal
cuidadas. Tudo é política e o cidadão, mesmo que queira ficar à margem, está
inserido no contexto. Faço questão de não fazer referência a fato tal ou qual.
É só abrir o jornal do dia ou a revista da semana para se conhecer de algo que
exala mau cheiro.
Outro
beco que requer pelo menos atenção, até porque há trechos mal iluminados, é
aquele que envolve seitas, templos, salvação, etc. Do jeito que a coisa anda,
logo, logo todo brasileiro precisará juntar um dote para salvar a pátria,
perdão, a alma. Quem não tiver o dote, não deve nem entrar na fila; pelo
contrário, deve ir preparando o leque e abano para passar a eternidade num
quitinete de 12m², sem janela e sem ventilação, temperatura beirando a casa dos
50º C. De quebra, leva o "som", 24h por dia, daquilo que chamam de
música: ai, se eu te pego...
O
beco menos perigoso é o futebol, que, à exceção do Neymar, anda mal das pernas.
É só não se envolver em demasia, achar que o nosso timezinho é um time de
primeira ou afirmar que fulano - que joga no nosso time - é craque para
seleção. Quem tem a pretensão de chegar lá precisa ter como espelho o Dr. Eduardo
Gonçalves de Andrade, também conhecido como Tostão. Com a bola nos pés, passava
por qualquer beco, estreito ou largo. Craque de bola e excepcional cronista.
Acabou de publicar o livro "A perfeição não existe". Bom de bola, bom
de letra.
A
vida tem avenidas largas, ruas esburacadas e becos. Não dá para escolher: a
avenida é larga com automóveis dos dois lados. Atravessá-la é ganhar meio
caminho para a eternidade. As ruas esburacadas estão aí, oferecendo perigo ao
pedestre ou aos que andam sobre rodas. Os becos são as alternativas para quem
optar pelo caminho mais curto e aparente mais fácil. Curto e perigoso. Síntese
(copiando Dona Iraci): se correr o bicho pega, se ficar o bicho pega e come.
quarta-feira, 6 de junho de 2012
SEREJO: Um meu homônimo – Eloy de Souza
Por:
Vicente Serejo
Na
edição de 3 de março de 1954, em A República, Eloy de Souza publicou o artigo
‘Um meu homônimo’ sobre Jacinto
Canela de Ferro, pseudônimo que adotou para assinar suas cartas sertanejas. Relembra
uns dias que passou em Currais Novos a convite de Vivaldo Pereira, uma
vaquejada em Santana do Matos, terras de Aristófanes Fernandes, e de como era
feita a carne de sol naqueles sertões velhos. A transcrição é uma homenagem a
Adriana Lucena que pesquisa sobre a iguaria nascida na civilização do calor
para ser uma das mais perfeitas técnicas de conservação da mesa nordestina.
Vivaldo
Pereira, jornalista nato e orador precavido e agradável, maneja a ironia com
esperteza de letrado.
Certa vez, ao proferir palavras de saudação
numa vaquejada que me foi oferecida por Aristófanes Fernandes, anfitrião cuja
medida no obsequiar consiste em não ter nenhuma, sintetizou os laços que me
prendem aos sertanejos nas seguintes palavras de carinhosa gentileza: Eloy de
Souza, pseudônimo de Jacinto Canela de Ferro…
Ele falava, realmente, a um mal nascido escritor regionalista que tinha
vestido casaca e melhor vestira e ainda vestia gibão, guarda peito e perneiras
de couro. A ironia instantânea garantiu
o êxito do discurso, que foi enorme, e deixou perplexo o político conterrâneo,
de pernas moles pela emoção, felizmente amparado a um mourão da porteira de uma
velha fazenda no município de Santana do Matos.
Recordando o episódio, peço ao meu prezado
amigo que também o recorde quando despertar no decorrer da noite pela música da
chuva sobre as telhas da sua casa hospitaleira de Currais Novos. Nada precisa responder sobre a carne-de-sol,
a sapiência dos veterinários e o mais que consta de laudas antigas e passadas,
que diziam assim.
Todos os homens ilustrados que, de certo tempo
a esta parte, passam pelo rancho do seu amigo, falam muito contra o uso
constante da carne no sertão. Vai nisto
um grande erro. Há muitíssimos anos que o sertanejo quase que não come carne,
nem de gado nem de ovelha, nem de bode.
Tanto a cabra como a ovelha, que por aqui chamamos criação ou miunça,
estão se acabando por causa do avanço da agricultura do algodão; e assim sendo,
o seu preço é tão caro que só os abastados podem comprá-la. Mesmo a carne de cabra, que não vale nada
como sustento, se vende pela hora da morte.
Não fala a verdade, quem disser que carne de
boi faz mal à gente. Mal faz, e grande,
não comê-la. Também no sertão essa perlenga entra por um ouvido e sai pelo
outro. Ninguém acredita nela e não há
sertanejo que não se ria de tal besteira. O que todo mundo sabe, pelo exemplo,
e pela tradição dos mais velhos, é que sem carne e sem tutano de corredor de
boi, não existe homem forte, nem vida longa.
Antigamente, quando o gado era muito e a carne
barata, os sertanejos eram muito mais altos e tinham força dobrada. Dava gosto
ver-lhes o lagarto do braço; e a largura do peito não tinha comparação com as
titelas de hoje.
Sou desse tempo e vi muito vaqueiro já idoso,
pegar boi erado por um chifre, meter-lhe os dedos da mão desocupada pelos
buracos da venta, apertar o mole que os divide e com uma reviravolta da cabeça,
derrubá-lo mais depressa, do que não se consegue fazer, com um macaco de corda
passado na cintura, moda introduzida no sertão pelos senhores veterinários, a
respeito de quem pretendo falar mais adiante.
A carne de boi que vai agora aos açougues, nem
ao menos alegra a vista da gente, pela cor das postas e da gordura. Uma deixou de ser encarnada e passou a roxa,
e a outra perdeu aquele alaranjado de outrora e tornou-se quase parecida com a
banha de tejuaçu, tudo isso obra do zebu.
Este bicho, que até parece de uma raça diferente, fortaleceu muito o
gado crioulo e aumentou-lhe o peso e o valor. Até as vacas mestiças dão mais leite.
Quanto, porém, à qualidade da carne, foi um desastre. Fresca ou de sol não se
fez para a dentadura de velhos. Os
próprios moços quando topam com uma tora de chã de fora ou da volta da pá,
cansam os queixos e acabam engolindo sempre uma parte que não foi mastigada.
Desde que os fazendeiros, com o fim de
conseguirem gado mais resistente às secas e mais pesado, começaram a castear as
raças que os portugueses nos trouxeram nos seus barcos, como o zebu, nunca mais
provamos carne de sol, verdadeiramente gostosa. Por outro lado a fome de ganhar
dinheiro, acabou com essa especialidade do nosso sertão. Em outros tempos, o seu preparo era uma
habilidade que todo mundo não tinha. Havia
até homens conhecidos como tendo boa mão para salgar as mantas, empilhá-las e
estendê-las nos caibros armados altos, sobre forquilhas. Muitos não admitiam ajudantes. Somente eles
despencavam quartos traseiros e dianteiros da rês, suspensos no alpendre da
casa, ou em outro lugar sombreado. O sal era pilado muito fino, em pilão de
aroeira, por braço de homem e não de mulher, criatura muito da cisma de alguns
abridores de carne, que, quando estavam nesse trabalho, não gostavam que a
nossa cara-metade passasse por perto, e muito menos tocassem nas mantas abertas
ou por abrir.
Estas depois de ficarem durante algum tempo,
umas sobre as outras para embeber o sal, eram estendidas nos caibros já
referidos e separadas por travessas que evitavam o contato de uma banda com a
outra. O cuidado em virá-las, de modo a
que o sol beneficiasse igualmente os dois lados, era vigilante.
A carne para ser chamada boa, precisava
apanhar sereno, pelo menos durante duas noites. Alguns sertanejos mais antigos,
e que sabiam apreciar um pedaço de carne de sol, davam-se ao trabalho de dobrar
as mantas no devido tempo, e guardá-las em malas de couro cru, que eram, por
assim dizer, a dispensa da carne de sol. Quando se abria uma dessas malas, na
camarinha mais próxima da cozinha, o cheiro tresandava no alpendre e fazia água
na boca dos que sentiam esse cheiro, muito mais ativo quando o pedaço da
gordura da chã de fora e do patinho
estava chiando na brasa. Nessa hora o
fastio de quem estava doente acabava, pelo menos em pensamento, no desejo de
comer um bocado, com farofa escaldada e tempero de cebolinha e coentro.
Hoje o preceito de fazer a carne de sol
acabou. Nem mesmo existe mais carne de sol. A que se vende hoje é de gado morto
de tarde e retalhado no dia seguinte, com esse nome que merecia muito mais
respeito, em honra à tradição do nosso paladar.
As mantas são grossas, cor de sangue, e tão salgadas que não há água
fervendo que as escalde. A questão do marchante é o peso, que dá mais dinheiro,
pouco lhe importando que o freguês goste ou não goste, viso que a competência
por esse lado acabou, por acordo entre eles.
Realmente, o cuidado com a criação é agora
muito maior do que há algumas eras passadas. Hoje, há remédio contra o
mal-triste, quarto inchado, o carbúnculo, só não há, pelo menos por aqui ainda
não apareceu, contra a tal de aftosa moléstia que nos foi trazida do sul por
desgraça nossa.
De vez em quando somos visitados pelos
veterinários, moços delicados, muito atenciosos e amigos de servir aos
sertanejos. Tratam o gado com as vacinas que trazem, e eu reconheço que elas
são boas para prevenir aqueles dois males terríveis.
Velho caturra que sou, não deixo todavia, de
achar muita graça na questão que eles fazem de ferver a agulha e a seringa e
desinfetarem com creolina o lugar da injeção.
Cá para mim, a esse respeito, bicho não é gente para andar se
infeccionando a toa. Deus já os fez com uma resistência muito grande às
infecções. Se não fosse assim, não
haveria mais nem gado nem criação no sertão, onde não há bicho que pelo menor,
não se espete uma e mais vezes todos os dias.
Mesmo espinho de xique-xique, que é reimoso como nenhum outro, mata o
animal que nele se fere Se a parte do corpo ferida foi alguma junta da mão ou
do pé, vem a inchação, que muitas vezes não desaparece e até aleija o animal.
Porém matar nunca vi.
O veterinário, entretanto, não está fazendo
caso dessa resistência natural e faz questão de ferver a agulha e a seringa, o
mais que pode, com perda de tempo, que também é dinheiro.
Não deixei, igualmente de achar muita graça em
certos remédios que eles aplicam para determinar moléstias. Outro dia vi dar ao cavalo, que estava
sofrendo de catarro, injeção de óleo canforado. Nós aqui pelo sertão em vez
desse remédio que custa muito dinheiro, resolvemos o caso com um defumador de
pimenta, falha de catingueira e fumo, que faz o animal espirrar até botar para
fora grande parte do catarro que lhe entope as ventas e os gorgomilos.
Os sertanejos muito mais antigos, os do tempo
do onça, como se costuma dizer, empregavam um processo que consistia em meter
na venta do cavalo doente, uma certa parte do corpo humano, secreta e por via
de regra mal asseada, que produziria a mesma espirradeira e curava do mesmo
modo. Isso era, porém, puro abusão, que
desapareceu na prática, mas ainda existe na tradição.
Não sou contra os veterinários. Que Deus os
traga em grande número com as suas
vacinas e a sua ambulância de remédios estrangeiros. Eu, porém, não dispenso tal amargo, clister
de semente verde de carrapateira branca; quando os meus cavalos aparecem com
sangue, caso em que também costumo sangrá-los na veia do pescoço, ou mesmo no
céu da boca.
Noto que esta já está mais extensa do que
devia ficando adiada a minha medicina dos bichos para outra vez.
Mudança climática pode custar à América Latina US$100 bilhões por ano
Marcelo Teixeira
Danos causados por mudanças
climáticas podem custar à América Latina e a países do Caribe 100 bilhões de
dólares por ano em 2050, caso as temperaturas médias subam 2 graus Celsius
frente a níveis pré-industriais, segundo um estudo divulgado nesta terça-feira
(5).
A região é responsável por apenas 11% das
emissões de gases estufa do mundo, mas é considerada particularmente vulnerável
ao impacto de mudanças climáticas devido à sua posição geográfica e à
dependência de recursos naturais, afirma relatório do Banco Interamericano de
Desenvolvimento.
O banco de desenvolvimento divulgou o estudo
dias antes da Rio+20, conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sediada
no Brasil sobre desenvolvimento sustentável.
O colapso do bioma de corais no Caribe, o
desaparecimento de algumas geleiras nos Andes e algum grau de destruição na
bacia Amazônica foram danos climáticos apontados pelo relatório.
A perda líquida de exportações agrícolas na
região por conta das mudanças, por exemplo, deve ficar entre 30 bilhões e 52
bilhões de dólares em 2050.
"Perdas dessa magnitude limitarão as
opções de desenvolvimento assim como acesso a recursos naturais", afirma o
relatório.
Mas o bando ressaltou que o custo de ajudar
países a se adaptarem aos efeitos das mudanças climáticas seria pequeno se
comparado ao preço dos potenciais danos.
A instituição estima que cerca de 0,2% do
Produto Interno Bruto da região, ou cerca de 10% dos custos dos impactos
físicos, seriam necessários para apoiar a adaptação frente às mudanças.
Segundo o texto, as emissões de gases estufa
da região caíram 11% em relação ao início do século, para 4,7 bilhões de
toneladas de dióxido de carbono equivalente em 2010.
Apesar disso, o banco afirma que mais precisa
ser feito na região. Os setores de transporte e energia devem aumentar suas
participações nas emissões de gases em 50% até 2050, segundo o relatório.
Estes dois setores apenas poderão contribuir
com 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente por ano na região,
segundo o estudo. Isso poderá elevar o total de emissões de gases estufas da
região para 7 bilhões de toneladas até 2050, ou 9,3 toneladas de carbono per
capita.
Trabalho Infantil no Brasil
Escrito
por Pablo Zevallos
O
trabalho infantil no Brasil ainda é um grande problema social. Milhares de
crianças ainda deixam de ir à escola e ter seus direitos preservados, e
trabalham desde a mais tenra idade na lavoura, campo, fábrica ou casas de
família, muitos deles sem receber remuneração alguma. Hoje em dia, em torno de
4,8 milhões de crianças de adolescentes entre 5 e 17 anos estão trabalhando no
Brasil, segundo PNAD 2007. Desse total, 1,2 milhão estão na faixa entre 5 e 13
anos.
Matéria
retirada do portal guiainfantil.com
Apesar de no Brasil, o trabalho infantil ser considerado ilegal para crianças e adolescentes entre 5 e 13 anos, a realidade continua sendo outra. Para adolescentes entre 14 e 15 anos, o trabalho é legal desde que na condição de aprendiz.
O Peti (Programa de Erradicação ao Trabalho
Infantil) vem trabalhando arduamente para erradicar o trabalho infantil.
Infelizmente mesmo com todo o seu empenho, a previsão é de poder atender com
seus projetos, cerca de 1,1 milhão de crianças e adolescentes trabalhadores,
segundo acompanhamento do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos). Do
total de crianças e adolescentes atendidos, 3,7 milhões estarão de fora.
Ao
abandonarem a escola, ou terem que dividir o tempo entre a escola e o trabalho,
o rendimento escolar dessas crianças é muito ruim, e serão sérias candidatas ao
abandono escolar e consequentemente ao despreparo para o mercado de trabalho,
tendo que aceitar sub-empregos e assim continuarem alimentando o ciclo de
pobreza no Brasil.
Perfil
do trabalho infantil no Brasil
Apesar de no Brasil, o trabalho infantil ser considerado ilegal para crianças e adolescentes entre 5 e 13 anos, a realidade continua sendo outra. Para adolescentes entre 14 e 15 anos, o trabalho é legal desde que na condição de aprendiz.
Sabemos
que hoje em dia, a inclusão digital (Infoinclusão) é de extrema importância.
Além da conclusão do ciclo básico de educação, e da necessidade de cursos
técnicos, e da continuidade nos estudos, o computador vem se tornando
fundamental em qualquer área de trabalho.
Desde
que entrou em prática, no final de novembro de 2005, o projeto de inclusão
digital do governo federal, Computador para Todos - Projeto Cidadão Conectado
registrou mais de 19 mil máquinas financiadas. Programas do Governo Federal
juntamente com governos estaduais, pretendem instalar computadores e acesso a
internet banda larga em todas escolas públicas até 2010. Com isso esperam que o
acesso a informações contribuam para um melhor futuro às nossas crianças e
adolescentes.
Como
já era de se esperar, o trabalho infantil ainda é predominantemente agrícola.
Cerca de 36,5% das crianças estão em granjas, sítios e fazendas, 24,5% em lojas
e fábricas. No Nordeste, 46,5% aparecem trabalhando em fazendas e sítios.
A
Constituição Brasileira é clara: menores de 16 anos são proibidos de trabalhar,
exceto como aprendizes e somente a partir dos 14. Não é o que vemos na
televisão. Há dois pesos e duas medidas. Achamos um absurdo ver a exploração de
crianças trabalhando nas lavouras de cana, carvoarias, quebrando pedras,
deixando sequelas nessas vítimas indefesas, mas costumamos aplaudir crianças e
bebês que tornam-se estrelas mirins em novelas, apresentações e comerciais.
A
UNICEF declarou no Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil (12 de junho) que os
esforços para acabar com o trabalho infantil não serão bem sucedidos sem um
trabalho conjunto para combater o tráfico de crianças e mulheres no interior
dos países e entre fronteiras. No Dia Mundial contra o Trabalho Infantil, a
UNICEF disse/referiu com base em estimativas que o tráfico de Seres humanos
começa a aproximar-se do tráfico ilícito de armas e drogas.
Longe
de casa ou num país estrangeiro, as crianças traficadas – desorientadas, sem
documentos e excluídas de um ambiente que as proteja minimamente – podem ser
obrigadas a entrar na prostituição, na servidão doméstica, no casamento precoce
e contra a sua vontade, ou em trabalhos perigosos.
Embora
não haja dados precisos sobre o tráfico de crianças, estima-se que haverá cerca
de 1.2 milhões de crianças traficadas por ano.
terça-feira, 5 de junho de 2012
SEREJO: O medo pode entrar
Por:
Vicente Serejo
Coisa medonha, Senhor Redator, é viver sem sossego. Quanto mais se o cristão escolheu para viver numa vila antiga, sem riqueza e sem soberba. É como se o medo nascesse dos becos e das ruas quietas e saísse andando como um fantasma do mal. É assim que vive o povo da Redinha nesses tempos de danações. É o que resta aos que moram nesta cidade tão bonita, entre o rio, o mar e os morros, numa sucessão de notícias que hoje fazem deste lugar do mundo um assombrado exercício de sobrevivência.
Coisa medonha, Senhor Redator, é viver sem sossego. Quanto mais se o cristão escolheu para viver numa vila antiga, sem riqueza e sem soberba. É como se o medo nascesse dos becos e das ruas quietas e saísse andando como um fantasma do mal. É assim que vive o povo da Redinha nesses tempos de danações. É o que resta aos que moram nesta cidade tão bonita, entre o rio, o mar e os morros, numa sucessão de notícias que hoje fazem deste lugar do mundo um assombrado exercício de sobrevivência.
Sou de outros tempos. De quando nas manhãs e
tardes antigas seu povo pescava e pastorava as nuvens. Os alpendres eram uma
extensão natural das casas, uma sombra doce que espantava o mormaço, e nas
latadas as conversas ajudavam a viver. De uns anos hoje adocicados na lembrança
com a fartura de peixes – das tainhas nas redes e dos xaréus que vinham ainda
vivos no tresmalho do arrastão. A vida não chegava pela tevê, para fazer a
paráfrase do verso bandeiriano, mas era vivida como se fosse poesia.
Esta vila, Senhor Redator, que recebeu Mário
de Andrade e Câmara Cascudo na velha casa de Barôncio Guerra, numa peixada
homérica, servida com um zambê de côco dançado na beira da praia, teve verões
imensos. Aqui o poeta Henrique Castriciano renovava os pulmões cheios de
cavernas que anunciavam a morte com sua tuberculose. E o professor Antônio
Soares, de olhos abertos para o céu e alma delirante, viu duas luas, um
mistério tão grande que nem a Nasa, com toda ciência, conseguiu ver.
Ora,
quem, senão uma vila assim, com o riso franco da vida sem perigo, por acaso
teria um time com o nome de Morte Futebol Clube, e com a presença de um jovem
craque chamado Lenine Pinto? E a gargalhada de Dalila que para Berilo
Wanderley, e como aquelas irmãs Boninas, lá de Goianinha, eram corredores de
ternura? E Cutruca, personagem de Newton Navarro que vencia suas ruas de areias
alvas como as dunas cantando canções que ninguém entendia, como se viver fosse
um jeito de amar os dias?
E a Redinha que veio depois, e viveu em nós na
sua última geração boêmia, como se fosse uma ilha a abrigar os deserdados da
tristeza, de tão felizes? E as suas casas de janelas acesas pelo sol das
manhãs? E as tardes, abertas para que a lua e as estrelas entrassem sem pedir
licença? E a cachaça que ainda vi brilhando nas mesas, entre volutas de cajus
vermelhos e abacaxis dourados, resplandecendo nos olhos mornos dos seus últimos
boêmios? E a vida que, de tão íntima, não se sabia se um dia acabava?
O medo hoje mora nestas ruas. Os dias de chuva
não afagam com ternura de mãos aveludadas o rosto da gente. É perigoso, muito
perigoso, tomar banho de chuva no beiral dos seus telhados. É arriscado andar
nos becos desertos, bares e lugares. É desaconselhável abrir as portas e
esperar a noite chegar. Foi-se o tempo, diria mesmo, que era bonito repetir o
verso do poema de Mário da Silva Brito e para abrir as janelas para encher a
casa de nuvens. Como, Senhor Redator, se o medo pode entrar?
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