quinta-feira, 31 de maio de 2012
SEREJO: De feriados antigos
Data:
23 maio 2012 - Hora: 20:18 - Por: Vicente Serejo
Tudo
se transforma, até nossos amores por santos e figuras históricas, Senhor
Redator. Quando o Estado não era laico e os reis uma invenção de Deus, a Igreja
era a grande aliada nas prédicas e práticas do exercício do poder. Com o tempo,
os poderosos foram deixando as sacristias, onde viviam à sombra da mitra e sob
a proteção do báculo, e tomaram as ruas na busca da consagração popular. A
partir daí, foram outros os heróis e outros os seus túmulos, como se o povo
fosse agora o novo deus dos líderes.
A gente sabe que apesar do aviso de Friedrich
Nietzsche – Deus está morto! – não foi uma morte física que o gênio alemão
anunciou. Nem a de Jesus Cristo, mesmo depois de padecer e morrer na cruz.
Estavam mortos os fundamentos que sustentavam não a Deus, mas a sua crença.
Ora, se nós o matamos, o Deus que tanto tempo utilizamos como justificativa
para todas as coisas do mundo, não seria dele que esperaríamos o milagre da
vida, mas do livre arbítrio humano como força geradora de novos destinos.
Lembrei
da morte nietzschiana de Deus, Senhor Redator, lendo um pequeno livrinho que há
anos e anos anda por aqui, com o título ingênuo e popular de ‘Novo Almanaque de
Lembranças’, o que revela a existência de alguma edição mais antiga. É menor
que um livro de bolso, pois cabe numa mão. E na sua nobre singeleza andrajosa,
está encadernado em capa dura, papel marmorado, dorso e cantos em percalina
carmim, e douração na lombada que vai ficando esmaecida pelo tempo velho de
manuseio.
Tem
quase quatrocentas páginas, se contados os índices, foi impresso em 1929 para o
ano de 1930, e ‘adornado de gravuras, enriquecido com muitas matérias de
utilidade pública, e com o retrato e a biografia do falecido escritor Jackson
de Figueiredo’. Vale dizer, se ainda é de envaidecer, que Jackson é autor de um
ensaio sobre Auta de Souza, impresso na Typographia Annuario do Brasil, Rio,
Centro D. Vital, julho de 1924, cinco anos antes de sua morte trágica ao
afogar-se no mar diante do próprio filho.
Isso tudo é só pra dizer que pelo menos até
aquele ano, segundo consta às páginas 133 a 135, os feriados históricos desta
aldeia eram poucos e justos: 9 de março, instalação do governo republicano de
André de Albuquerque Maranhão em 1817; 7 de abril, promulgação da Constituição;
e 12 de junho, a morte do Padre Miguel Joaquim de Almeida Castro, o Frei
Miguelinho, que em 1817 teve suas idéias libertárias arcabuzadas em Recife, ele
que para viver bastaria negar a assinatura onde faltava um ‘o’.
Hoje, Senhor Redator, nenhuma dessas datas é
reverenciada pelo povo desta velha aldeia. Ora, quanto mais guardá-las. Os
nossos legisladores, descomprometidos que são com a nossa história, nos
empanturraram de outros feriados mais modernos, dia disto e dia daquilo, e
ficamos assim, sem noção do tempo de quatro séculos que vivemos. E não há
jeito. É aceitar nosso destino vil e vulgar, e entregar a Deus o futuro que nos
aguarda. Tem ai mais um século e já estamos vivendo de delações premiadas.
Nascentes ameaçadas de extinção
Por
Márcio Santilli
Um
dos aspectos frustrantes da medida provisória editada pela presidente Dilma
Rousseff, de forma casada com vetos pontuais ao Código Florestal aprovado pelo
Congresso, é a redução das exigências legais para a recuperação de nascentes.
Os legisladores do Planalto introduziram deliberadamente no texto da medida a
expressão “perenes”, com o intuito de excluir dessas exigências as nascentes
intermitentes que, frequentemente, ocorrem em regiões com menor disponibilidade
anual de água.
Diante
da reação de espanto com a introdução, por moto próprio do Planalto, de mais um
retrocesso na legislação florestal, circulam rumores em Brasília de que a ANA
(Agência Nacional de Águas) será convocada a publicar uma nota técnica
sustentando que “intermitente” também é “perene”, de modo a evitar uma reedição
da medida provisória pela presidente.
Além
disso, a medida provisória também consolida a redução da extensão das áreas a
serem reflorestadas ao redor das nascentes. Enquanto a lei revogada na
segunda-feira indicava um raio de 50 metros ao redor de qualquer nascente, a
nova lei mantém esta metragem apenas para as nascentes já protegidas, não
desmatadas. Para fins de recuperação, a exigência máxima passa a ser de 15
metros, chegando a apenas 5 metros para as propriedades de menor extensão.
Observa-se
aqui a mesma lógica perversa aplicada a vários outros dispositivos do texto
legal: quem cumpriu a lei revogada será punido com a manutenção do mesmo nível
de exigência e com um conceito de nascente amplo; os que descumpriram a lei –
desmatando, aterrando e reduzindo a disponibilidade de água – serão premiados
com uma anistia que começa com a introdução do adjetivo “perene” ao conceito e
por uma anistia florestal, para fins de recuperação, que variará de 70% a 90%,
supondo-se a manutenção de mais essa excrescência na legislação.
Ninguém,
em sã consciência, acredita que os órgãos ambientais locais se darão ao
trabalho de aferir tecnicamente quais são as nascentes intermitentes e as perenes
na sua área de jurisdição. Ou que sairão demarcando círculos de vários
tamanhos, de acordo com as extensões das propriedades privadas constantes das
matrículas de cada cartório. A própria lei, ao introduzir diferenciações que
multiplicam por mil as dificuldades de monitoramento e controle ambiental,
induz ao nivelamento por baixo.
É
este o sentido da palavra “consolidação”, tão presente na retórica ruralista
durante todo o processo de revisão do Código Florestal. Ele significa, na
verdade: “fica legalizado o que foi destruído”. Já a responsabilidade de
preservar alguma coisa do ativo florestal existente em áreas privadas fica para
os “otários” que cumpriram a lei e, agora, verão suas propriedades
desvalorizadas em relação às de quaisquer vizinhos predadores.
Esgoto passa na porta da casa de 18,6 milhões de brasileiros
Pelo
menos 18,6 milhões de brasileiros - quase a população de Minas - vivem em áreas
urbanas com esgoto a céu aberto nas portas de suas casas, mostra pesquisa do
Censo 2010. As pessoas expostas ao esgoto equivalem a 12% da população
pesquisada.
Do
total de domicílios analisados, 11% ficam próximos a valas ou córregos que
recebem esgoto. São 5,1 milhões de casas onde vivem principalmente pobres,
crianças e negros ou pardos.
De
todas as capitais, o cenário em Teresina é alarmante. Sete em cada dez
domicílios, ou 71,8%, tinham esgoto a céu aberto. Entre as cidades com mais de
1 milhão de habitantes, Belém tem o maior índice: 44,5% dos domicílios. A média
nacional elevada é causada pelos altos índices das regiões Norte (32,9%) e
Nordeste (26,3%), que contrastam com o Centro-Oeste (2,9%).
O
esgoto atinge com mais intensidade os domicílios com crianças de zero a 9 anos
- 15% vivem em casas com valões de esgoto. "A cidade não vai ser saudável
se as comunidades carentes não forem", diz o sanitarista Alexandre Pessoa
Dias, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Dois
dos cinco filhos do pedreiro Ivanildo Santos, de 43 anos, estão doentes. Ontem,
foram medicados em um posto de saúde do bairro Terra Firme, em Belém. Com febre
e diarreia, a doença das crianças diagnosticada pelo médico é problema comum na
vizinhança. "A gente está cansado de pedir a atenção do governo, mas
ninguém quer saber do nosso sofrimento", diz Santos. O bairro, na bacia do
igarapé do Tucunduba, tem acúmulo de lixo e 95% das casas não têm esgoto. /
L.N.L. e
quarta-feira, 30 de maio de 2012
SEREJO: Das coisas do mar
Data:
19 maio 2012 - Hora: 18:04 - Por: Vicente Serejo
É
dessa gente caiçara, Senhor Redator, esse destino cósmico de acreditar no sol e
na lua, no dia e na noite, na escuridão e nas estrelas. Faço parte desse povo
nascido na beira da praia e por isso aprendi a não duvidar de sua força. Basta
vê-lo vindo buscar o que é seu, lambendo a areia, devorando muros ditos de
arrimo, muralhas, alambrados, construções. Fui menino ouvindo a lição dos
pescadores quando as ondas avançavam e bramiam como no velho mar dos sonetos
parnasianos: o que é o mar, o mar leva.
Desde
o início dos anos setenta, mais de quarenta anos, que ando nesta beira de mar
da Redinha. Se não ando mais até as sombras dos coqueiros de Santa Rita para de
lá avistar as alvas dunas de Genipabu, como antes, paciência. A juventude
dobrou a esquina para nunca mais voltar. Agora é remar com vagar. Passo lento,
olhos flutuando, a cabeça vagando nas lembranças. Pressa? Pra quê? Vou indo
assim, meio devagar, sem o arroubo das certezas, mas encantado com a dúvida
como um sinal de vida.
A
ciência do homem, Senhor Redator, é mais misteriosa do que os mistérios do mar.
Imagine que um dia chegaram aqui umas máquinas gigantes e começaram a jogar
pedras no fundo do rio. Monstruosas e feias, aquelas geringonças da tecnologia
nem se davam conta que estavam mexendo com a paciência da natureza e invadindo
suas entranhas. E fizeram isso que chamam linha de corrente, e que nas minhas
águas antigas se chamava quebra-mar, quando não se sabia das hidrogeologias do
mundo.
É
um estirão de rochas estreitando o rio na direção da boca da barra e, segundo
os sábios pagos a peso de ouro pelas burras federais, só assim o velho Potengi
não mais ficará assoreado, invadido pelas areias que tornam raso seu leito no
canal, caminho nas águas para a passagem dos navios. Assim foi feito. Quem
teria forças de impedir? Os pescadores que ainda resistem naquele canto, último
porto na Redinha, viam tudo com um riso maroto nos olhos, desconfiados de
milagres que não nascem de Deus.
Bastou
mais um tempo e a cobra gigante ficou pronta. Estava lá como até hoje, inerte,
estirada entre o rio e o mar, como se fosse muito simples separar as águas ou
fazê-las recuar. Às vezes penso que essa ciência especializada em fazer
monstros de pedras não sabe o que é o mar. Muito menos, de tão simples, uma
maré de lua. Por isso calculam, projetam, reproduzem tudo em laboratório e
chegam a uma conclusão simples: é fácil dominar as águas, as correntes
marítimas e os ventos. E começam a construir.
Aqui
também foi assim. Um dia deram por feita a cobra gigante. Na inauguração,
então, foram esmerados: trouxeram uma bela rocha de granito, como as que
jogaram no mundo do mar, e puseram uma garra de ferro daqueles seus monstros e
a espetaram no cume. Estava pronto o monumento. E se foram. No dia seguinte,
silenciosamente, o mar voltou para buscar o que era seu. E vem avançando a cada
maré de lua. Vem furioso, depois recua lentamente, e assim vai indo. Numa força
de nunca acabar.
O Relógio
21/5/2012
17:27, Por Arlindenor Pedro - do Rio de
Janeiro
Sentado
da sua mesa podia olhar o Relógio,que imponente dominava aquele trecho da
cidade. Tec, tec, tec, o barulho das máquinas de escrever ia se perdendo,
transportando-o, fazendo com que a realidade ficasse mais longínqua; fazendo-o
viajar para fora da seção. Não sabia explicar, mas desde pequeno, quando fitava
aquele Relógio, como naquele momento, sua alma se enchia de emoção. As vezes,
quando sua avó levava-o até a cidade, surpreendia-se em estado de tensão,
aguardando que o trem chegasse à primeira curva, de onde podia avistar uma de
suas faces. E, quando ao longe ele ia surgindo, enorme, branco, com rapidez
acertava o seu relógio de pulso, brinquedo dado pelo tio Reinaldo, que sempre o
acompanhava nos dias de ir até a cidade – dias de festa. Jamais se esqueceu
daquele dia, quando sua mãe levou-o à casa de uma amiga em Copacabana e ele
pode vê-lo, pela primeira vez à noite. Foi demais! Estava todo aceso: seus
enormes ponteiros e números destacando-se na escuridão do céu. Enormes,
marcando as horas: quinze para às oito, ainda se lembra.
Agora,
olhando para o Relógio, depois de tanto tempo, sorria ao relembrar a idéia que
dele faziam. Via, agora que não era tão grande assim, nem mesmo tão bonito.
Talvez os olhos de uma criança vejam as coisas diferentes…mais bonitas,
maiores! Ao longo dos tempos passara a ouvir muitas histórias sobre ele.
Passou, como muita gente, a associá-lo à vida da cidade, aos constantes atrasos
dos trens. Convenceu-se que eram verdades as coisas engraçadas que contavam,
colocando-o como único responsável nos atrasos dos empregados, das músicas que
faziam a esse respeito. Mas, mesmo assim, admirava-o. Tinha por ele um grande
carinho. Via-o como um amigo, que dali, mudo e impassível, acompanhava a sua
vida, pois, tinha sido o espectador sempre presente em momento importantes da
vida nacional. Podia imaginá-lo a assistir, lá do alto, aos desfiles, as
bandeiras vermelhas, a luta pelo petróleo, a queda de Vargas, o suicídio, o
governo Dutra, as repressões aos trabalhadores, aos assassinatos. Ele assistira
derramar-se à sua volta as greves, as manifestações na Central do Brasil, o
quebra-quebra do bondes. O governo do Juscelino, a mudança de capital. E agora,
olhando para ele, daquela janela de repartição pública, voltou a lembrança
daquele dia que, ainda pequeno, levado por mãos de quem não se lembra,
participou da homenagem que fizeram ao presidente americano que chegara ao Rio.
Ficou marcado que os gritos de “I like lke “não foram escutados nas imediações
da Central, reduto de operários.
Por
uma dessas obras do destino, quando chegou a época de cursar a escola
secundária, época em que alargou seus horizontes para além do bairro suburbano
em que vivia, foi num colégio do estado- o Orsina da Fonseca, exatamente ao
lado da Central, que passou a estudar. E lá, bem no alto, defronte a sua
janela, estava o seu amigo. Passava horas e horas, largado olhando para ele,
sem prestar atenção nas intermináveis palestras em francês de Dona Tora,
elegantíssima professora de francês que todo dia chegava ao colégio num
reluzente Mercedes da embaixada, prerrogativa de quem era mulher de embaixador.
Quando o professor Bayard fazia aquelas suas críticas ao governo, atacando o
Lacerda, todos na sala olhavam rindo para ele, entendendo o que queria dizer
quando o associava aos atrasos no pagamento do magistério estadual. Uma vez,
recorda-se, quando na aula de fantoches do mestre Belan, pediram-lhe que
escrevesse uma historieta para ser apresentada no auditório de colégio, foi
sobre o seu amigo que escreveu. E a Maria Adélia, a portuguesinha de coxas
grossas que morava na rua do Jogo- da- Bola? Era no Campo de Santana aonde iam
namorar, as mãos dadas, o sexo explodindo por entre as calças, matando aula, o
olho controlando as horas para pegar o bonde Uruguai-Engenho Novo, com os
amigos do Pedro II! Ufa…que aventura!
Num
dia de agosto, qual não foi sua surpresa, quando chegou ao colégio e viu que
ele estava tomado por tanques enormes, contingentes de soldados armados, caras
com graxa, em trincheiras, canhões antiaéreos. Não houve aula. Todos foram
mandados de volta para casa porque o presidente tinha renunciado e ninguém
sabia o que iria acontecer. Depois disso, sempre que chegava cedo, dava um pulo
ao centro da praça que separava o colégio da Central, para ver de perto a troca
de guarda do Panteon, onde os soldados levavam bandas e flores para o Duque de
Caxias.Momentos de excitação para uma criança!
Foi
com tristeza que um dia teve que abandonar o colégio, pois fora transferido
para outro na Tijuca, longe da Central e da cidade. Mas, sua vida ainda
continuaria ligada ao Relógio
À
seus pés, levado pelo jornalista Muniz Bandeira, assistiu ao grande comício da
Central, onde se diluiu na multidão de operários, camponeses e estudantes que,
aos milhares, fluíam ao redor de um grande palanque para ouvirem as palavras de
homens como Arraes, Brizola e outros. Já rapaz, qual sonâmbulo, andava de um
lugar para o outro, bebendo as palavras, os comentários e os gritos extasiados
com o número enorme de pessoas, pois, nunca tinha assistido a alguma coisa como
aquela. Olhou para cima. Soberbo, lá estava o seu amigo, e preso ao edifício da
Estrada de Ferro, um enorme painel do presidente Jango que, dias depois, seria
derrubado e partiria para o exílio.
Numa
tarde chuvosa, no dia 1º de abril, horrorizado em frente ao Campo de Santana,
assistiu às metralhadoras atirarem nos estudantes do Caco, deixando corpos na
calçada, abrindo caminho para que as tropas do general Mourão pudessem ocupar a
Praça da República.
Quantas
coisas esse Relógio não testemunhou. O silêncio geral. As paradas comportadas
do 7 de setembro, as pessoas indo para o trabalho, o carnaval!
Num
dia, em 1968, assistiu, junto com ele, a um inflamado discurso do Wladimir, que
em frente ao STM, levado por milhares de pessoas, exigia a libertação dos
presos políticos. E, anos mais tarde, achava graça daquilo tudo, olhando para o
seu amigo não mais das ruas, mas de uma janela de sua cela no DOPS, na Rua da
Relação, onde podia avistá-lo ao longe, nas intermináveis noites de sua
incomunicabilidade.
Quis
o destino que trabalhasse numa janela que desse frente para ele, e nas
enfadonhas tardes de burocrata se pergunta: quantas coisas aconteceram, quantas
coisas acontecerão ainda e que ele registrará?
Por
sobre a cabeça de seu amigo, na torre, a bandeira nacional tremula à meio-pau,
na última homenagem a Juscelino que se foi. É a história! É a história .
Arlindenor
Pedro é professor de história e Especialista em Projetos Educacionais.
Anistiado por sua oposição ao Regime Militar dedica-se na atualidade à produção de flores tropicais na região das
Agulhas Negras.
E-mail
para contatos e agendamento de palestras :
arlindenor@newageconsultores.com.br
Blog:
arlindenor.wordpress.com
segunda-feira, 28 de maio de 2012
SEREJO - Defeito de infância
Data:
17 maio 2012 - Hora: 18:01 - Por: Vicente Serejo
A
culpa, Senhor Redator, pra dizer a verdade, não foi do meu pai nem da minha
mãe. A vida é que quis assim. Não era fácil, naqueles anos medonhos, deixar um
emprego público de contador da Capitania dos Portos e vir tentar a vida na
capital. Com mulher e, na época, quatro filhos. Só quando um amigo que morava
no Rio de Janeiro, um conterrâneo macauense, conseguiu a sua transferência para
aquele velho Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos, uma notícia
muito esperada durante muito tempo.
Ainda lembro: viemos na frente, meses antes,
no misto de Chico de Gustavo, hoje Empresa Cabral. Tinha nove anos, mas ainda
tenho nos olhos o adeus triste do meu pai. E chegamos sem lenço e sem
documento, apostando na vida. Minha mãe, de olhar muito aguçado, dizia que se
ficássemos lá a vida estancaria. Era preciso desafiar, ousar, ainda que a
ousadia fosse apenas ter os filhos matriculados nos colégios de Natal. Eram
quase todos públicos, mas eram bons. Como o Atheneu, antes do abandono.
A fortuna e o infortúnio nasceram ai. Não foi
impossível ficar no Ginásio São Luiz. Fui para o Ginásio Noturno Monsenhor
Matta que funcionava no Grupo Alberto Torres, na hoje Praça das Flores. De lá
para o Atheneu onde fiz o clássico fugindo da matemática, física e química do
científico. Ainda tentei o primeiro ano, mas vi que se fosse bacharel em
Direito seria um fracasso. Para evitar o naufrágio, e consciente de que era
mais ou menos em tudo, fui ser jornalista, esse especialista em coisa
nenhuma.
Ora, Senhor Redator, vindo do Atheneu noturno
e numa terra onde as amizades explicam tudo – os fortes salvam os fracos
indicando-os como amigos de juventude. Não tê-los na hora certa, pois, faz
falta até hoje. É o defeito grave que explica esse não ter sido. Esse não ser
nada. Esse nunca ser indicado pra coisa nenhuma. Nem por isso, culparia a minha
mãe que nos reunia em torno de uma mesa humilde, na beira de uma rua simples
chamada Pinto Martins, e com palavras acendia em nós a chama da esperança.
Escrevinhador
vulgar a quem o destino negou a glória de escritor, hoje coleciono o brilho dos
que tiveram amigos importantes na infância. Sem frustrações. Nem precisaram de
competência. Pra quê? Só a pose nas colunas sociais. A caneta regurgitando no
papel sempre paciente do poder público, as arrazoadas assinaturas timbradas
pelos cargos. Daqui, como um mestre gajeiro, bem do alto desta gávea e diante
do meu mar antigo, vejo quando seus navios chegam e partem em circunavegações
de gloriosas espumas.
Ora,
a quem culpar se deixei na infância, herança de mim mesmo, uns poucos craques
de futebol que driblavam os adversários e faziam gol, mas perderam o jogo da
vida? E aquele menino, meu vizinho, íntimo dos mistérios da ciência, como não é
um senador? E aquele outro que um dia deixou a rua para ser oficial, mas nunca
mais voltou Almirante da Marinha do Brasil como sonhava? Ah, agora lembro: e o
seminarista que aos domingos, de batina, vinha almoçar com a família, o que fez
dele a bondade de Deus?
Brasil apresenta compromissos com direitos humanos na ONU
Por Redação, com Portal Vermelho
– de Brasília
Brasil
apresenta resultados de recomendações sobre direitos humanos da ONU, o
relatório apresenta medidas realizadas entre 2008 e 2011
Na
próxima sexta-feira, o Brasil apresenta os resultados do esforço de cumprir as
15 recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU) e dois compromissos
voluntários que garantem a proteção dos direitos humanos. Todos os 193
países-membros das Nações Unidas são submetidos ao mecanismo a cada quatro anos
e meio, o que representa uma inovação do sistema internacional de proteção dos
Direitos Humanos.
O
Estado brasileiro aderiu a quase totalidade das convenções internacionais sobre
o tema e está aberto ao monitoramento internacional. O País atendeu ao
compromisso assumido perante as Nações Unidas e praticamente alcançou as metas
previstas pelos objetivos de desenvolvimento do milênio antes de 2015,
integrando ao seu cumprimento a perspectiva dos direitos humanos.
O
relatório apresenta um balanço das medidas tomadas entre abril de 2008 e
dezembro de 2011. Além de avaliar o cumprimento das obrigações internacionais
assumidas pelo País, o estudo descreve as políticas públicas que promovem o
respeito à universalidade e indivisibilidade dos direitos civis, políticos,
econômicos, sociais e culturais presentes na Constituição Federal.
O
documento diz ainda que alcançar o desenvolvimento com respeito aos direitos
humanos é uma prioridade brasileira e inclui o combate à pobreza. A diferença
de renda familiar per capita dos 20% mais ricos em relação aos 20% mais pobres,
entre 2001 e 2009, passou de 24,3 para 17,8.
O
Índice de Gini – utilizada para calcular a desigualdade de distribuição de
renda – caiu de 0,59, em 1999, para 0,54, em 2009. De acordo com o documento, a
melhor política de direitos humanos tem como base a diminuição das
desigualdades e da discriminação entre as pessoas, as regiões, as raças e os
gêneros.
A
terceira edição do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), instituído
em 1996, é compatível com a recomendação feita na Declaração e no Programa de
Ação de Viena de 1993. Fruto de um amplo debate, com expressiva participação da
sociedade civil, PNDH-3 envolve 33 ministérios na sua execução. Por se tratar
do roteiro para a atuação do Estado, o PNDH-3 estabelece diretrizes que
fortalecem a perspectiva dos direitos humanos como um eixo transversal das
políticas públicas.
A agricultura orgânica versus o método de cultivo tradicional
Fernando
Reinach - O Estado de S.Paulo
A
produção orgânica de vegetais ocupa 1% de toda a área plantada no planeta. Os
outros 99% são cultivados utilizando os métodos tradicionais. Mas, se você perguntar
aos consumidores se eles preferem um tomate orgânico - cultivado sem
pesticidas, herbicidas e adubos químicos - ou um tomate produzido de maneira
convencional, provavelmente a estatística se inverte: 99% (eu inclusive)
preferiria o tomate orgânico. Será que a humanidade não deveria adotar de
maneira definitiva a produção orgânica?
Aparentemente,
a metodologia orgânica é superior do ponto de vista ambiental, não polui os
rios, preserva o solo e é mais saudável. Mas existe um outro lado da questão ambiental
que é a produtividade por área cultivada.
Nas
últimas décadas a humanidade descobriu que o planeta não é capaz de alimentar
um número infinito de seres humanos. À medida que cresce a população mundial,
cresce a área utilizada para produzir alimentos, biocombustíveis e celulose.
Cada hectare dedicado a satisfazer as necessidades humanas é um hectare a menos
coberto de florestas, Cerrado ou outros ecossistemas naturais.
E
aí vem o dilema: como alimentar os quase três bilhões de bocas humanas que vão
ser acrescentadas à população mundial nos próximos 50 anos? Aumentando a área
plantada ou aumentando a quantidade de alimentos produzida nas áreas
cultivadas?
É
neste contexto que a produtividade dos diversos métodos se torna importante. O
tomate orgânico é melhor, mas quanto maior seria a área cultivada se toda
produção de tomate fosse orgânica?
Agora,
um grupo de cientistas analisou 66 estudos independentes contendo 316
comparações entre a produtividade obtida utilizando métodos convencionais e
orgânicos. Para ser incluído na comparação, os estudos deveriam seguir alguns
critérios: rigor científico e as áreas consideradas deveriam ter sido
certificadas por órgãos internacionais.
Os
resultados demonstram que, na média, a produtividade por hectare obtida com
métodos orgânicos é entre 20% e 25% menor. Em nenhum caso ela é superior à
produtividade obtida com a agricultura convencional. Mas a boa notícia é que em
muitos casos a diferença é pequena, chegando a somente 10% no caso da soja e do
milho. Em outros casos, como nos vegetais usados em saladas, a produtividade
com métodos orgânicos é muito menor, chegando a 30%.
Esses
resultados são animadores já que muitos defensores da agricultura tradicional
palpitavam que a produtividade obtida utilizando métodos orgânicos seria metade
da convencional.
Mas
infelizmente isso não resolve a questão. Mesmo que a humanidade decida adotar o
cultivo orgânico - e consequentemente aumentar a área cultivada, mas se
libertando da ameaça dos produtos químicos -, outros aspectos do problema
precisam ser analisados. Os autores do estudo listam alguns deles. Um é o custo
dos alimentos produzidos pelas duas formas de cultivo e seu impacto no problema
da fome no planeta e nos níveis de emprego na agricultura. Outro é a sustentabilidade
ambiental de cada forma de cultivo no longo prazo e em grande escala (se você
cultiva alface sem adubo químico, mas usa esterco como adubo, sua produção de
alface depende do rebanho bovino).
O
que fica claro é que a comparação entre métodos produtivos não é simples, pois
não depende de uma única variável. Vai ser necessário desenvolver metodologias
capazes de comparar variáveis complexas e um modelo em escala global. O que é
melhor para a humanidade, um tomate orgânico mais caro, que ocupa uma área agrícola
maior, mas que não utiliza agroquímicos e emprega três pessoas, ou um tomate
convencional, mais barato, produzido em uma área menor, mas que utiliza insumos
químicos e emprega uma pessoa?
Dada
a complexidade das comparações necessárias é pouco provável que no curto prazo
sejam obtidos dados suficientes para fazer uma comparação rigorosa. Mas será
que a Terra aguenta esperar?
domingo, 27 de maio de 2012
Projeto de lei pode liberar garimpo em Terras Indígenas
O
PL nº 1610/96 foi o tema do debate convocado pela Federação das Organizações
Indígenas do Rio Negro (Foirn), em São Gabriel da Cachoeira, no último dia 10,
tendo como convidados deputados integrantes da Comissão Especial de Mineração
em TIs da Câmara Federal que analisa a matéria. A organização indígena
reivindica em documento que as populações afetadas sejam consultadas e que seus
direitos sejam garantidos
A
Comissão Especial da Câmara dos Deputados que analisa o Projeto de Lei nº
1.610/96, que regulamenta a mineração em TIs (Terras Indígenas), deu novos
sinais de que deverá se posicionar a favor da liberação do garimpo nessas
áreas.
Durante
seminário realizado em São Gabriel da Cachoeira, noroeste amazônico, em 10/5, o
relator da proposta, deputado Édio Lopes (PMDB-RR), defendeu a possibilidade de
exploração econômica do solo de TIs por terceiros, além das comunidades
indígenas, apesar de a Constituição garantir a elas o usufruto exclusivo. O deputado
afirmou que, se constituírem empresas, garimpeiros poderiam explorar as
riquezas minerais do solo de TIs.
Realizado
a convite da Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro), o
evento pretendia mostrar como está sendo feita a análise do PL e colher
subsídios para a elaboração do relatório sobre a matéria, que deve ser
concluído ainda este ano.
A
grande maioria dos que falaram pela Comissão era de representantes do setor
minerário favoráveis à abertura das TIs à exploração de minério. Estiveram
presentes integrantes do DNPM (Departamento Nacional de Pesquisa e Mineração),
Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração) e da Aprogram (Associação de
Profissionais Geólogos do Amazonas). Deputados estaduais e integrantes de
cooperativas de garimpeiros também defenderam a mineração nas TIs. O Procurador
da República no Amazonas, Eloi Francisco Zatti Faccioni, foi o único convidado
a falar em defesa dos direitos das comunidades indígenas. Antes do seminário, a
Aprogram espalhou faixas pela cidade com os dizeres “Yanomami apoiam mineração
em TIs”, sem autorização das organizações indígenas.
Na
abertura do evento, o presidente da Foirn, Abrahão Oliveira França, lembrou que
a intenção do convite feito à comissão era discutir uma lei que garantisse os direitos
dos povos indígenas. Apesar disso, na véspera, o assessor da Comissão,
Frederico Cruz, que também funcionário do DNPM, disse em uma rádio local que o
debate serviria como espaço para quem quisesse se manifestar a favor ou contra
a mineração em TIs. Por essa razão, muitos participantes limitaram-se a
criticar falhas da implementação de políticas públicas na região e defenderam a
mineração como alternativa de renda.
Nunca é demais lembrar que quando realizado
sem fiscalização e condições adequadas, o garimpo pode provocar impactos
socioambientais graves. A atividade tende a ser foco de migração descontrolada,
doenças contagiosas, violência e prostituição. Principalmente na Amazônia,
ensejou invasões, conflitos e mortes entre populações indígenas. O caso do
garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami é um bom exemplo disso. Os Yanomami
convivem até hoje com o garimpo ilegal em seu território, sempre assombrados
pelo massacre de Haximu, ocorrido em 1993, quando mais de uma dúzia de
garimpeiros, acompanhados de pistoleiros profissionais, em busca de ouro,
assassinaram com requintes de crueldade 16 índios Yanomami.
Foirn
Durante
o seminário, o diretor da Foirn, Maximiliano Correa Menezes, afirmou que a nova
lei deveria estabelecer em que condições poderá haver mineração nas TIs e quais
os casos em que ela não deverá ocorrer. Menezes mencionou que o tema é tratado
na proposta de Estatuto dos Povos Indígenas (PL 2.057/91) que foi discutida na
CNPI (Comissão Nacional de Política Indigenista) e também tramita na Câmara.
Ele ressaltou que o movimento indígena defende que a regulamentação do assunto
seja detalhada nessa proposta, e não em um projeto específico.
A
Foirn entregou um documento ao relator Édio Lopes e ao presidente da Comissão,
Padre Tom (PT/RO), em que apresenta subsídios para a elaboração da nova lei e
reitera o pedido para que seja feita uma consulta aos povos indígenas do Rio
Negro quando o relatório ficar pronto (Leia aqui o documento na íntegra).
A
Foirn reivindicou que não basta conhecer o relatório, mas deve haver tempo
hábil para analisá-lo e discuti-lo com as comunidades indígenas. A expectativa
é de que a posição das organizações indígenas seja considerada pela Comissão.
Durante
o seminário, vários participantes afirmaram desconhecer o conteúdo do
relatório. Lopes e Padre Tom comprometeram-se a retornar a São Gabriel para
apresentá-lo quando ele estiver pronto.
Padre
Tom afirmou que o governo federal não pretende votar o PL nº 2.057 porque não
teria condições de aprovar, com sua base parlamentar, um texto favorável aos
povos indígenas. Segundo o deputado, no entanto, a perspectiva é que o projeto
sobre a mineração em TIs seja votado ainda neste ano.
Usufruto
Segundo
a Constituição, o usufruto das riquezas do solo das TIs é exclusivo dos índios
e a atividade garimpeira por terceiros é proibida nessas áreas. A exploração do
subsolo pode ser feita por concessão da União.Lopes argumenta que a decisão do
STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a demarcação da TI Raposa-Serra do Sol
(RR) permitiria a exploração do solo das TIs por terceiros, incluindo
garimpeiros se constituídos em empresas.
No
texto das condicionantes incluídas na decisão em relação à´Raposa-Serra do Sol,
o falecido ministro Menezes Direito afirma que “o usufruto dos índios não
abrange a garimpagem nem a faiscação, devendo, se for o caso, ser obtida a
permissão de lavra garimpeira”.No julgamento, no entanto, o relator do
processo, ministro Ayres Britto, tratou as condicionantes como salvaguardas que
apenas serviriam para orientar futuras decisões do STF, uma vez que não foram
submetidas a contraditório. Assim, elas não reconheceriam ou criariam direitos
para terceiros.
A
condicionante também não respaldaria restrições ao usufruto exclusivo dos
índios porque estaria relacionada apenas à necessidade de submeter uma
atividade que explora recursos da União à autorização de órgão federal
competente.
Consulta
Em
reunião com a Foirn, Padre Tom afirmou que não caberia ao Congresso Nacional
fazer consulta sobre o projeto de lei, conforme determina a Convenção 169 da
OIT (Organização Internacional do Trabalho). Para o parlamentar, é o governo
quem tem de realizar as oitivas. De acordo com o deputado, o entendimento que
prevalece na comissão é o de que uma consulta pelo Parlamento deveria ser feita
já para autorizar a exploração de acordo com o que determina o Artigo 231 da
CF.
A
Constituição, porém, define que isso deve ser feito só depois que uma lei
específica regulamentando o tema for aprovada. Por outro lado, a Convenção 169
da OIT é clara ao determinar que as populações indígenas devem ser consultadas
tanto sobre medidas administrativas, referentes ao Poder Executivo, quanto
medidas legislativas, referentes ao poder legislativo. A consulta prévia foi o
tema da primeira oficina que o governo federal realizou em março deste ano com
indígenas de todo o País. ( saiba mais).
O
procurador Eloi Francisco Zatti Faccioni alertou que o PL deve regulamentar a
mineração em TIs como uma atividade excepcional, a ser realizada no interesse
nacional.
Para
ele, a proposta deve garantir a consulta aos afetados antes do Congresso
autorizar a atividade, caso a caso. Também precisa contemplar a recuperação de
áreas degradadas, compensação pelo uso do solo, medidas de fiscalização da
atividade mineral, controle social por parte das comunidades e representações
indígenas
Tragédia Recorrente
Por:
Maurício Adu Schwade
Mas
uma vez nos surpreendemos com o brutal assassinato de uma adolescente em
Presidente Figueiredo. Mas uma vez nos indignamos...
Mas,
e quando é que vamos parar para refletir? Não digo pensar no imediato, no calor
da dor. Digo refletir profundamente sobre as causas; digo ir além da mera
resposta fácil do bode expiatório, do criminoso da vez. Quando?
Que
são monstro, não discuto, concordo!!! Mas olhem com atenção as fotos. São
jovens!!! São talvez tão vítimas quanto Adriely. Ela que não estará em meio a
seus amigos, sorrindo e fazendo sorrir. Mas que tem, quem sabe, o conforto do
que está para lá do Terreno.
Eles,
coitados, condenados a uma morte viva. Condenados a morte social. Condenados a
carregar em cada um dos seus passos na Terra o peso de tão grande crime.
Ela,
Eles,tantos outros, todos nós; Ferrugem, Itaituba, ... Todos vítimas! Vitimas
fatais; vítimas da angústia; vitimas do medo... Todos vítimas!!
Sim,
todos vítimas, mas também culpados!! Uns mais outros menos, mas culpados!! Uns
mais conscientes, outros menos, mas todos culpados!!
E
para quem ainda não viu sua culpa, digo: estás entre os menos conscientes, mas
não posso responder se estás entre os mais culpados!! E acho que não cabe este
debate aqui; se o fizermos corremos o risco de mais uma vez buscarmos se
esconder atrás de bodes expiatórios.
Cabe,
sim, começarmos a ver os problemas.
O
problema de pensarmos, quando muito, em políticas para a juventude, e nunca
políticas com a juventude. De tratarmos a juventude como incapaz de pensar o
futuro, de sonhar o futuro, de viver o futuro. De impedirmos a juventude de
criar as políticas públicas, pensar as políticas públicas, viver as políticas
públicas. De impedirmos que a juventude pense a cidade e a floresta, viva a
cidade e a floresta, construa a cidade e a floresta cultural.
Falo
da juventude, mas isso não vale só para a juventude. Vivemos numa sociedade de
repreção, onde não se permite uma ampla participação. Numa falsa democracia,
onde após um processo viciado de votação prevalece o silencio, a repreção, o
jogo sujo, a humilhação do puxasaquismo...
Ôps,
ôps, ôps... Não comece a pensar que a culpa é do fulano ou do beltrano
político. Não, não, não. É deles também; mas eles também são vítimas. Eles
também são prisioneiros deste sistema viciado que só se desconstrói com uma
ampla participação da sociedade. Participação e transformação.
Só
se desconstrói quando criarmos um ambiente que - para lá dos guetos - discute,
critica, ouve, constrói coletivamente apesar das diferenças. Um ambiente onde
se pense o futuro um pouco mais para frente; onde o medo de perder o emprego,
ou a comodidade de um emprego de ‘carrapato-de-saco’ não impere, não impeça a
ação, a denuncia, a crítica e a construção coletiva.
Onde
se possa criticar a forma que se organiza a Festa do Cupuaçu sem ouvir que é
mera intriga. Onde se possa denunciar que esta forma megalomaníaca leva à
violência, à prostituição, à bebedeira. Onde cada um possa ajudar a construir
uma política cultural que valorize as pessoas; que valorize o local; que
valorize a cultura.
Onde
mais que pensar sobre a ação de repreção quando o crime já foi cometido; mais
que pensar em correr para chamar a polícia quando o sangue já se misturou a
água do Urubuí; mais que achar que fazer justiça é bradar pela morte dos
assassinos, que são, como estamos vendo, também vítimas; Pensemos, isso sim, em
como criarmos oportunidades de vida. E destaco: Oportunidade de Vida, e não de
emprego como muito se pensa que é a solução.
Oportunidade
de Vida, de Criação, de Participação, de Envolvimento e de Compromisso com a
Sociedade.
Para Duas Mulheres
Por
José Aldemir
Ambas
unidas pela fé lutavam pelo que acreditavam. Ambas escolheram a Amazônia como
palco de suas ações. Ambas já nos deixaram, uma de ‘morte matada’, assassinada
num dos bárbaros crimes que ocorrem nesta Amazônia sem fim, a outra de ‘morte
morrida’, de males que só nestes trópicos há.
Ambas
levavam a vida adubando a terra e semeando, cuidando da mata e dos bichos, mas
cuidaram mesmo foi de gente, especialmente dos injustiçados. Ambas foram
radicais e não faziam concessões na defesa do que acreditavam, porém suas
radicalidades tinham um quê de ternura, de afeto e de leveza, pois o que lhes
impulsionava era o amor à vida em toda a sua plenitude. Uma conhecido movimento
pastoral, pois a partir dos anos 1990 não havia uma reunião para se discutir a
Amazônia na perspectiva dos mais simples que seu nome não fosse citado. A outra
tive o privilégio de conhecer pessoalmente e de aprender muito com seus
ensinamentos.
É
sobre esta que escrevo o que dela conheci no dia a dia. A casa que construiu
não tem portas nem janelas, visto que sempre está aberta a todas as pessoas do
mundo, de várias línguas, de diferentes credos, alguns buscando aprender,
outros contribuindo e outros tantos apenas experimentando outro modo de viver.
Para ela não havia felicidade maior do que acolher e compartilhar.
Tive
o privilégio de assistir ao crescimento de seus filhos e à casa inteira se
transformar de doces, de mel, de amor em experiências de solidariedade como se
aquela casa no interior da Amazônia fosse um cantinho construído para mudar o
mundo.
Há
pouco mais de um ano Ela nos deixou, quando um mal súbito nos privou de seus
ensinamentos, conselhos, receitas naturais e da alegria de acolher. Foram uns
poucos dias de sofrimento e ela, que cuidava de todos, não cuidou
suficientemente de si e foi cuidar de outros num recanto qualquer do universo.
Lembro-me
com exatidão do seu velório, em que acadêmicos, intelectuais, membros de
organizações sociais, políticos, sobretudo gente simples, vieram de vários
lugares para lhe prestar homenagem. Era um dia de domingo e a mãe terra que ela
ajudou a cultivar a recebeu para sempre. A terra estava úmida, resultado das
primeiras chuvas de dezembro a contradizer-se com o sol escaldante de uma morna
manhã. A floresta dava contorno ao cenário. Ouvia-se um longo silêncio, nada
havia para se dizer. Palavra alguma seria capaz de expressar o que foi essa
grande mulher que escolheu a Amazônia para viver. Com ela se foi um pouco de
cada um que estava ao seu redor e de outros tantos espalhados pelo mundo.
Conosco fica vivo seu exemplo de coerência e dedicação às boas causas e a
memória de luta e persistência em defesa da Amazônia e de sua gente.
O
silêncio foi rompido pelo canto de um pássaro a encorajar as últimas
homenagens. Em seguida, até o pássaro cessou seu canto e novamente predominou o
silêncio, como para expressar, que nessas ocasiões nada há a dizer, o silêncio
comunicou o estado de espírito.
Para
duas grandes mulheres, Dorothy Stang e Doroti Schwade simplesmente uma palavra:
obrigado, seus exemplos continuarão, pois lutar é preciso.
sábado, 26 de maio de 2012
SEREJO: Agora, só Deus
Data:
14 maio 2012 - Hora: 18:45 - Por: Vicente Serejo
O
caso eu conto como me contaram. E quem me contou, há anos e anos, naquela mesa
redonda no primeiro andar da velha Livraria Universitária, entre goles de chá
mate com limão – coisa de Walter Pereira, o gentil-homem – foi o professor
Mário Moacy Porto. Era um humanista em quem a cultura erudita refinava o humor
naquelas conversas que nós, bem mais jovens, dividíamos com Alvamar Furtado,
Américo de Oliveira Costa, o coronel Manuel Leão Filho e, algumas vezes, Jaime
Hipólito.
É
a história de um literato peripatético de João Pessoa, lá na Paraíba,
versejador infatigável que tinha a confessada e única veleidade de um dia
compor um soneto que fosse tão hermético ou mais que os sonetos do grande
Augusto dos Anjos, seu ídolo, nascido no engenho Pau d’Arco a poetar os seus
primeiros versos à sombra de uma velha tamarineira. Era seu sonho, como um
ideal, pois de quimeras vivem todos os poetas. Principalmente aqueles de alma
parnasiana como as tardes de Olavo Bilac.
Pois bem. Um dia, depois de retocar semanas e
semanas os quatorze versos de um soneto feito com palavras de rimas ricas e
complicadíssimas, certamente caçadas como passarinho, uma a uma, nos melhores
dicionários do ramo, o poeta finalmente deu por acabada sua missão que ergueu
como uma verdadeira escultura. Pronta e revista nos últimos detalhes e
requintes de obra prima, saiu na direção da redação de um jornal que tinha como
redator-chefe da folha literária um velho amigo de juventude.
Saudado por todos da redação, foi atravessando
o pequeno salão até a mesa daquele redator seu companheiro de vida literária.
Tirou o soneto do bolso, datilografado com todo esmero, leu em voz alta
acentuando as rimas alternadas, e pediu finalmente que o amigo fizesse circular
no domingo próximo. Mas, ao fechar a
página poética, o redator, por puro esquecimento, deixou de programar a
publicação do soneto e por isso o jornal saiu sem o brilho daqueles versos
esmerilhados com lavor de joalheiro.
Segunda-feira,
quando viu o poeta chegando, o redator foi logo pedindo desculpas pelo trágico
esquecimento que adiara a glória do poeta amigo. Nem acabou a frase. Ele,
impávido, retrucou dizendo que não viera reclamar. Pelo contrário. ‘Foi ótimo
que não tivesse saído. E explicou: fiz um soneto que só eu e Deus pudéssemos
entender sua complexidade metafísica. Ontem, relendo várias vezes, cheguei à
conclusão que nem eu entendo certas expressões que usei. E concluiu gravíssimo:
Agora, só Deus’.
Essa
história toda, Senhor Redator, é para dizer que durante esses anos de lutas
políticas, só Deus e o papa Vivaldo Costa compreendiam o estilo do deputado
federal João Maia. Tanto que eram sólidos aliados. De repente, abro o jornal e
encontro a notícia inesperada: Vivaldo rompeu com João Maia. Li, reli, joguei o
jornal de lado, e pensei comigo: agora, sem Vivaldo Costa, e como o soneto do
poeta peripatético da Paraíba, só Deus pode entender João Maia e seu Partido
Republicano. Só Deus.
Entrar na Espanha hoje "é questão de sorte", diz artista brasileiro barrado no aeroporto de Madri
Juan Arias, Do "El País" , No Rio de Janeiro
Se
tivessem previsto a repercussão que o incidente teria, as autoridades policiais
espanholas não teriam detido durante 30 horas no Aeroporto de Barajas, em
Madri, e depois deportado para o Brasil, o artista plástico de fama
internacional Menelaw Sete.
O
artista, que se dirigia a Milão para participar de uma exposição de arte, foi
detido no aeroporto de Madri na quinta-feira (17) e deportado no sábado (19).
"Viajo há 15 anos para a Europa com a mesma documentação. Tinha uma carta
de convite, tudo em ordem. Não consegui falar com o consulado brasileiro. Foi
todo um teatro. Ali só estavam detidos negros, mexicanos e brasileiros",
relata.
O
artista brasileiro quis aproveitar seus dias de detenção para realizar 40
pinturas que ilustrarão o que viveu ali. Ao chegar ao Brasil, manifestou-se ao
consulado da Espanha em Salvador, na Bahia. Foi recebido pelo cônsul Jacobo
González-Arnao Campos, a quem pediu que reunisse a mídia e fizesse uma
retratação pública do ocorrido.
Sete
entrou em greve de fome e está pedindo aos cidadãos que assinem uma grande
bandeira branca que pretende entregar à presidente Dilma Rousseff, em protesto
contra a situação que muitos brasileiros sofrem nos aeroportos espanhóis.
"Senti-me obrigado a entrar nessa causa porque os brasileiros estão sendo
tratados de forma humilhante na Espanha. Minha indignação não é tanto pessoal,
como pela forma como tratam a gente", explicou ao jornal "O
Globo". E acrescentou: "Passei 30 horas detido, sem direito nem a
tomar banho. A comida é horrível. Você só tem direito a beber água durante as
refeições. Fora disso, só água da torneira. Havia homens, mulheres e crianças.
Havia até um berço. Estavam todos desesperados."
Os
40 quadros pintados durante sua retenção em Barajas serão apresentados em uma
próxima exposição. Para o artista, entrar na Espanha hoje "é apenas
questão de sorte", e não de ter ou não a documentação em regra.
Menelaw
Sete é o nome artístico do pintor Jorge do Nascimento Ramos. Conhecido
internacionalmente como representante da arte de influência cubista e
neoimpressionista, o pintor baiano se interessou pela pintura desde pequeno. As
repetidas queixas de cidadãos brasileiros que acabam retidos em Barajas e são
repatriados para o Brasil, incluindo personalidades como catedráticos de
universidade convidados para congressos na Europa, fizeram que o governo de
Dilma Rousseff começasse a aplicar em abril passado a lei de reciprocidade em
termos de entrada de espanhóis. Por isso também aumentou o número de espanhóis
que chegam aos aeroportos brasileiros e são detidos e devolvidos à Espanha por
algum problema burocrático.
Condições
recíprocas
Há
mais de quatro anos os turistas brasileiros e seu governo se queixam de que a
Espanha tem condições de entrada tão duras na fronteira (as ditadas pelo
tratado de Schengen) que muitos brasileiros que vão visitar parentes ou
estudar, inclusive com matrículas pagas, são devolvidos ao Brasil de forma
arbitrária. O país sul-americano decidiu finalmente, há menos de dois meses,
aplicar as regras de reciprocidade e exigir dos espanhóis exatamente os mesmos
requisitos que a Espanha pede aos brasileiros para entrar.
Desde
1º de abril os espanhóis que querem viajar ao Brasil como turistas têm de
mostrar a passagem de volta e garantir meios econômicos suficientes para sua
estada e uma reserva de hotel ou, na falta desta, uma carta de convite assinada
diante de um notário brasileiro por algum nacional que se responsabilize de que
o turista ficará hospedado em sua casa e de que, quando acabarem as férias,
voltará à Espanha.
O
mesmo têm de fazer os brasileiros que viajam à Espanha.
Irã expulsa diplomata por abusos sexuais no Brasil
Um
diplomata iraniano foi expulso do Ministério de Relações Exteriores do Irã após
uma investigação sobre acusações de abusos sexuais no Brasil, indicou nesta
segunda-feira o governo iraniano em um comunicado.
"Após
uma investigação sobre as infrações do funcionário da embaixada da República
Islâmica no Brasil, foi concluído que seu comportamento era contrário ao
regulamento administrativo e à conduta profissional e islâmica", afirmou o
texto.
"Por
esse motivo, foi condenado à expulsão do Ministério de Relações
Exteriores", acrescentou o comunicado.
O
diplomata, que estava em Brasília, teve que ir ao Irã durante a investigação.
Segundo
a imprensa brasileira, o diplomata foi acusado de ter acariciado quatro
meninas, todas entre 5 e 15 anos, na piscina de um exclusivo clube de Brasília
em meados de abril.
O homem foi detido por uma denúncia dos pais
da menina, mas a polícia teve que liberá-lo depois do interrogatório, seguindo
a Convenção de Viena, que protege os diplomatas.
As famílias das meninas quiseram linchar o
diplomata, que conseguiu escapar graças à intervenção dos seguranças do clube.
A embaixada do Irã em Brasília afirmou que o
assunto foi apenas "um mal entendido devido às diferenças culturais de
comportamento".
sexta-feira, 25 de maio de 2012
Serejo: O Fantasma
Por: Vicente Serejo
Fui
leitor do Fantasma, ‘O Espírito-que-anda’, a genial criação de Lee Falk, nos
anos trinta. Por sinal criador também do velho e mágico Mandrake. Sua lenda é
cheia de mistérios. Único sobrevivente de um naufrágio provocado por piratas
nas costas africanas, ainda muito criança, acabou sobrevivendo e criado pelos
pigmeus da tribo Bandar. Pequenos e ferozes, as suas flechas envenenadas com
curare, eram os únicos que sabiam a sua história e o juramento de combater a
pirataria ao longo dos séculos.
O Fantasma, o espírito-que-anda era tão
misterioso que tinha três nomes: Fantasma, na Floresta Negra, onde vivia na
caverna da Caveira, escondida depois de uma cachoeira, um símbolo respeitado e
temido que ‘estava’ em toda parte: no anel que marcava o queixo de quem
esmurrava, na roupa, na sua poltrona ao lado de um rádio com o qual sabia de
tudo e tudo controlava lá da Floresta Negra. Na mão esquerda, outro anel, a
marca do bem que usava para assinalar as pessoas e as coisas sob sua proteção.
Como ‘Fantasma’ era aquele que jurara, sobre a
caveira do seu próprio pai, sempre combater os piratas. Como ‘O Comandante’,
era o chefe misterioso da Patrulha da Selva que criou para defender a Floresta
Negra dos bandidos, sem revelar seu rosto aos comandados, deixando suas ordens
em bilhetes e usando um túnel, num poço de água ‘envenenada’ para despistar. E
o ‘Sr. Walker’, nome do seu passaporte, quando viajava em missões ou para
visitar a noiva, a ex-campeã de natação Diana Palmer.
Quando
embarcava em navios para viagens à África do Sul, onde morava Diana, ou mesmo
em aviões, estes mais raros, tinha sempre o mesmo problema: tentavam impedir
que levasse ao seu lado ‘Capeto’, seu lobo de estimação. Quando um funcionário
do navio lhe avisava, no portaló, que os cães eram proibidos de embarcar,
respondia com a voz forte que todos temiam: ‘Não é cão, é lobo’. E entrava, sem
mais uma palavra, e fechava-se no seu camarote, sem pedir nada, nem água, nem
comida.
Seu
quarto, na casa de Diana, tinha uma janela sempre encostada, por onde entrava
sem avisar a chegada. Nada lá dentro. Só duas esteiras para ele e ‘Capeto’. Na
Floresta Negra, seu cavalo era branco, puro da raça árabe, e tinha o nome de
‘Herói’. Passava dias, namorava e, algumas vezes, era ela que ia visitá-lo na
Caverna da Caveira. Chegava a cavalo, guardada pelas flechas dos pigmeus Bandar
chefiados por Guran. Nas manhãs, nadava nos rios, sob o olhar atento e amoroso
do Fantasma.
Hoje não acompanho mais a sua vida. Só sei que
casou com Diana, quando já desconfiavam de sua virilidade, e foi feliz. Teve um
filho, a quem deixou os símbolos de sua eternidade – os anéis, a roupa, a
máscara, as duas pistolas e o coldre. Mas, às vezes, penso que ainda hoje há
outros Fantasmas por ai, dando ordens, e tão misteriosos quanto o Comandante da
Patrulha da Selva. Mas talvez sem o charme daquele herói. É que a vida, Senhor
Redator, imita a arte e os mitos na velha floresta do poder.
Poroca: Capoeira
José
Carlos L. Poroca
Vinicius
de Moraes, poeta carioca – que muita gente pensa que era baiano –, teve ‘n’
parceiros (Bach, inclusive) e ‘n’ parceiras. Os primeiros, no campo musical; as
parceiras, em outros campos, inclusive o amoroso. Tive o privilégio de ver o
músico no palco duas ou três vezes. A última, quando se apresentou sentado,
acompanhado de uma garrafa de “red” e gelo até umas horas. Os companheiros de
palco davam o suporte quando a letra ou a música ou ambos não vinham, seja pelo
esquecimento ou pelos efeitos do scoth. Todo mundo (a plateia) aceitava e, se
não estou equivocado, todos gostavam: era Vinicius.
Vinicius
reapareceu na cuca, assim, de repente, no mês em que se comemora o 21 de Abril,
dia de “arrancar dentes”. Veio à mente a gravação que fez em parceria com Baden
Powell, da música Capoeira, cuja letra diz que “quem é homem de bem não trai”,
“quem diz muito que vai não vai” etc. A música foi feita na chamada ‘fase africana’,
denominação que o autor rejeitava. A verdade é que Vinicius foi de uma
versatilidade ampla e se há trabalhos menores, não se pode dar as costas para o
conjunto da sua obra. Se vivo estivesse, estaria a caminho dos 100 anos – meta
que ninguém acreditaria que ele alcançasse. Nem ele.
A
lembrança de Vinicius não veio só. Fez-se acompanhar de um “oh!” pela foto que
saiu na mídia, de um ex-presidente da República visitando outro presidente, do
Senado, num hospital. A cena é emblemática, com vários significados. Pobre de
mim que, vendo a foto, apliquei um selo de ‘histórica’. Sem ser fruto de
desatino, notei a ausência, na cena, de um Forrest Gump, personagem do livro de
Winston Groom, levado às telas por Robert Zemeckis, com Tom Hanks no papel
principal. Não estou falando de um Forrest Gump norte-americano. Imaginei, um,
nativo, que tenha vivido de perto o Brasil, acompanhando os fatos da nossa
história.
Se
a hipótese pudesse se concretizar, outras cenas poderiam ser conectadas
envolvendo os personagens, começando pelos anos 1970 para chegar aos dias de
hoje. Difícil seria digitalizar as cores e formatá-las num único plano, eis que
o antagonismo de outrora se transformou em vento e as cores de ideologias, de
lá para cá, ficaram desbotadas ou mudaram de cor (o amarelo virou cinza),
influência de produto químico batizado de “para o bem da causa”. Vamos fazer de
conta que foi assim, pois é difícil imaginar que essas transformações se
processem por interesses. Homens públicos não priorizam interesses particulares
e/ou partidários em prejuízo do interesse público. Isso aconteceu faz tempo, na
época das Capitanias Hereditárias. Hoje a possibilidade é remota, junto do
improvável, afinal, estamos num país civilizado, desenvolvido, progressista e
incorrupto. Já podemos até barrar espanhóis na porta de entrada.
Executivo
do segmento shopping centers
jcporoca@uol.com.brPrejuízo com a seca na Bahia pode chegar a R$ 7,7 bilhões, aponta estudo
Carlos Madeiro, Do
UOL, em Maceió
Um levantamento
realizado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI)
aponta que a agricultura e o setor de serviços no Estado poderão amargar um
prejuízo de até R$ 7,7 bilhões com a seca que assola o Nordeste. Isso ocorrerá
caso não chova até o mês de outubro, completando o ciclo de um ano sem
precipitações. Esta é a pior seca em décadas, e no Estado se fala na pior em 47
anos.
Santa Brígida (BA).
Mais de 750 municípios do Nordeste já decretaram situação de emergência e mais
de 4 milhões de pessoas foram afetadas Mais Beto
Macário/UOL
O estudo levou em
conta três possíveis cenários. No primeiro deles, o mais otimista, com chuvas
até o início do mês de junho, o prejuízo agrícola chegaria a R$ 3,8 bilhões. No
segundo cenário, mais moderado e considerando chuvas a partir de agosto, o
déficit alcançaria R$ 5,7 bilhões. No terceiro e mais pessimista cenário, o
prejuízo alcançaria R$ 7,7 bilhões do PIB (Produto Interno Bruto) estadual.
Segundo o IBGE, o último PIB consolidado da Bahia é de 2009 e somou R$ 137
bilhões.
Segundo
meteorologistas, não há previsão de chuva significativa para as próximas
semanas na região afetada pela estiagem –segundo alguns, as precipitações previstas para o Estado ficarão apenas
sobre o litoral, para outros, elas devem atingir o oeste do Estado, mas sem
acabar com o problema.
“Na análise do cenário
pessimista considerou-se uma redução de 40% na produção agropecuária e, como
consequência, uma queda de 20% no setor de serviços e comércio dos municípios
atingidos pela seca”, apontou o estudo.
“Essa é uma simulação
para mostrar que essa seca veio realmente muito forte. A gente tem esse
terceiro cenário, que digo pessimista, mas que possivelmente pode ocorrer se as
chuvas não caírem até outubro –aí fecharíamos um calendário agrícola inteiro de
seca, com algumas culturas perdendo as três safras. É um tipo de perda que não
se pode recuperar”, explicou ao UOL o coordenador de Acompanhamento Conjuntural
da SEI, Luiz Mário Vieira.
Segundo o
levantamento, existem 446 mil estabelecimentos agropecuários nos municípios em
situação de emergência, o que corresponde a mais de 60% daqueles existentes na
Bahia. Desses, 58% são pequenas propriedades, com menos de 10 hectares de área
(cada hectare equivale a 10.000 m²).
Os números ainda
mostram que mais de 2,2 milhões de pessoas trabalham nas lavouras nos
municípios em situação de emergência e estão sofrendo diretamente com a
estiagem.
Feijão e milho em
falta
Em todo o Estado, 242
municípios decretaram situação de emergência e mais de 2,7 milhões de pessoas
são afetadas pela seca.
Prejuízo maior
Mas o prejuízo deve
ser ainda maior que o estimado, já que não foi levado em conta o prejuízo da
pecuária. “A pecuária é muito mais difícil mensurar. Vamos tentar fazer isso
posteriormente, quando tivermos a noção da perda do rebanho. Há informações
ainda desencontradas. Existe também uma perda derivada, que é a oferta de leite
que já está sendo afetada. A oferta de carne também pode sofrer em alguns
locais”, disse Luiz Mário Vieira.
Para a Federação da
Agricultura e Pecuária do Estado (Faeb), a estiagem provocará uma perda na
produção geral entre 20% e 40%. Em 90 dias, segundo a federação, as pequenas
cidades do interior começarão a sentir sinais de desabastecimento de carne
bovina e o consequente aumento de preço do produto.
A produção de leite já
apresenta uma queda aproximada de um terço, o que representa 1,5 milhão de
litros por dia. Com redução de 60% na produção no setor, as cidades de
Itapetinga, Jequié e Itabuna são as que sentem os maiores efeitos da seca.
A Faeb considera
perdida a produção de feijão e milho que ainda não foi colhida. Em diversos municípios,
não houve condições para plantio. O abastecimento deverá ser feito com os
produtos vindos de Minas Gerais e do Paraná.
O plantio de frutas
também está prejudicado, com exceção da região do rio São Francisco, onde não
há problemas de irrigação. Por causa da seca, o governo proibiu o uso da água
para fins comerciais e liberou apenas para abastecimento da população. A
produção de abacaxi em Itaberaba, por exemplo, já está com a safra deste ano
comprometida e com o plantio para o próximo ano atrasado.
Durante visita do UOL
ao sertão baiano, muitos produtores se queixaram das perdas agrícolas
causadas pela seca. “Sempre planto feijão e milho, mas esse
ano a chuva não veio e não plantei nada. Ano passado perdi tudo, pois depois de
maio a seca começou a chegar e a chuva foi enfraquecendo até parar de vez em
setembro”, disse José Luís do Nascimento, 65, agricultor de Santa Brígida (a
458 km de Salvador).
Festas juninas
Além do plantio e
criação de gado, a seca afeta os festejos tradicionais de Santo Antônio, São
João e São Pedro. Até o momento, 26 municípios baianos cancelaram suas festas
por causa da seca e 21 reduziram as atividades.
A orientação do
Tribunal de Contas dos Municípios é para que não gastem com os festejos juninos
mais do que o gasto em anos anteriores para que as comemorações não prejudiquem
as ações de combate à seca. (Com
Agência Brasil)
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